Rota Umayyad no Algarve

13:49


“… Eles viajaram por desertos, fundaram cidades e criaram uma civilização que uniu o Oriente ao Ocidente”.

Este ano, quando estava pesquisando lugares para visitar aqui no Algarve, vi num site oficial de turismo um projeto chamado: The Umayyad Route. Logo fiquei apaixonada e até pensei que o ideal seria "começar pelo começo" (desculpem-me o pleonasmo), ou seja, no Oriente, porque foi lá onde tudo começou... Entretanto, como naquele momento era inviável ir para o Oriente Médio, voltei para a ideia inicial e foi em busca de mais informações sobre a Rota Omíada na Europa, mais precisamente no AlgarveNão sem antes de partir, pedir a Al-Mutamid sabedoria para a escrita e a Al-Idrisi, orientação geográfica para esta epopeia algarvia.

Embora este roteiro esteja em sites oficiais de turismo do Algarve, inclusive ele representa Portugal neste projeto transfronteiriço e a região com mais cidades com vestígios desta dinastia. Infelizmente, ele é pouco realizado pelos turistas em geral – inclusive não encontrei em nenhum blog de viagem, alguém que o tenha feito, ou melhor, para não dizer que não achei, o que encontrei foram repostagens sobre o assunto e um fotógrafo freelancer que fez esta rota ao ser convidado para divulgação do projeto em 2016. Então, em primeiríssima mão, vou mostrar para vocês nesta postagem, esta rota no Algarve.

A História


A palavra omíada provavelmente não lhe diz nada, mas os Omíadas foram uma Dinastia Islâmica que, implementaram o sistema hereditário do califado– o Califado Omíada foi o segundo dos quatro principais califados islâmicos – após a morte do profeta Maomé.

Uma dinastia fundada por Muawiya ibn Abi Sufian, oriundo do mesmo clã do profeta e da cidade de Medina na Península Arábica. Daqui, transferiram a sede do seu poder para Damasco, na atual Síria, expandindo a sua influência religiosa, cultural e militar para Magrebe, Norte de África e Al-Andalus, na Península Ibérica, conquistada na primeira metade século VIII, sendo administrados pelo Emir de Cairuão, da Tunisía, sob dependência direta do poder califal de Damasco.

Em 750, Abderramão I não assina com os Abássidas a Dinastia Omíada e foge para a capital do Al-Andalus. Fundando em 756 o Emirato Omíada de Córdoba independente do poder califal abássida de Bagdad. Atingindo o apogeu do poder omíada no Al-Andalus entre 929 e 1031, com a fundação do Califado Omíada de Córdoba.

O Projeto

Em 2012 teve início um projeto, cujo objetivo era promover o turismo sustentável com base numa ação conjunta, cuja origem era o desenho de um itinerário transfronteiriço entre os países que compartilhavam uma história comum e experiência cultural. 

Portanto, a razão de ser destes percursos é procurar estabelecer laços e estreitar as relações entre os diferentes povos que continuam unidos por um passado comum, dando a conhecer a profunda relação humana, cultural, artística e científica entre o Oriente e o Ocidente e a forma como o legado greco-romano foi transmitido à Europa através de al-Andalus.

Este projeto foi concluído em 2015 e hoje são mais de 30 rotas certificadas que promovem a diversidade e a identidade cultural da Europa.

A Rota Assim surgiu The Umayyad Route ou a Rota Omíada que é como se denomina o percurso turístico que une sete países do Mediterrâneo– Itália, Tunísia, Egito, Jordânia, Líbano, Espanha (Andaluzia) e Portugal (Algarve) – em torno do antigo legado árabe, contando a sua história e promovendo um patrimônio comum a todos eles: a herança dos omíadas.

A rota ou itinerário começa no Oriente Médio e remonta parte da jornada seguida na capital em Damasco, ponto mais oriental da Jordânia e do Líbano, passa pelo Egito e Tunísia, através do Norte da África, antes de seguir ao longo do Mediterrâneo, com escala na Sicília (Itália) e sua subsequente expansão ao longo da costa sul do Mediterrâneo até a Península Ibérica (Espanha e Portugal), caminho pelo qual a civilização árabe-muçulmana chegou à Europa e que deu origem ao Califado de Córdoba, onde a civilização hispano-muçulmana floresceu durante vários séculos.

Nela, visitamos 14 localidades, onde descobrimos o legado material e imaterial desta Dinastia Árabe em Portugal. As diferentes etapas do itinerário coincidem com monumentos que datam da era omíada ou estão relacionados com algumas das dinastias. 

Pudemos contemplar os vestígios de muralhas urbanas, os conjuntos palatinos fortificados, os testemunhos arqueológicos expostos nos museus, a gastronomia, as vistas sobre o oceano, a natureza e toda a diversidade paisagística e cultural do território. 

Durante todo o percurso, os visitantes podem ver mesquitas, palácios, fachadas de edifícios, pormenores arquitetônicos como cúpulas e monumentos, que ajudarão a explicar quem foram os omíadas, através da herança patrimonial deixada por eles.

Também, pudemos ver como os povos de então viviam, que jogos faziam, as suas tradições… como tudo isso influenciou a forma de estar hoje, além de um riquíssimo patrimônio material que perdurou até aos nossos dias.

A Rota Umayyad na Europa

Na Europa é uma rota cultural transfronteiriça que une Portugal e Espanha a partir da diversidade deste legado de origem árabe, através das rotas do Legado Andalusi e da Rota Al-Mutamid. Aqui também são muitos quilômetros que ligam esses dois países, com locais, cidades e bens culturais sobre temas comuns. Ela abrange o canto sudoeste da Península Ibérica fazendo um percurso pelas terras portuguesas até à capital da Andaluzia. É uma das estradas mais ricas do al-Andalus, uma vez que a herança monumental da Andaluzia é adicionada à de Portugal no período muçulmano.
Durante o califado chegaram ao Douro, mas no período Almoada já estavam a sul do Tejo, portanto, a rota tem início em Lisboa, mesmo em frente ao Oceano Atlântico, estende-se até Granada, passando por Huelva e acaba em Sevilha, onde reinou esta dinastia.

A Rota Umayyad em Portugal

O Portugal muçulmano era parte da mesma substância, da mesma natureza, da mesma essência, da mesma matéria, da mesma constituição do al-Andalus. As fronteiras entre a Espanha muçulmana e os reinos cristãos do norte mudaram ao longo dos séculos, mas nada separava as áreas do al-Andalus que mais tarde se tornariam Portugal.

Por isso, esta rota apaixonante tem nascimento de seu percurso em terras portuguesas, onde paisagens muito diferentes fazem dela uma das mais ricas, não só no que respeita o patrimônio monumental, mas também no que concernem os espaços naturais. É possível sentir uma continuidade histórica das povoações do Alentejo e do Algarve com a Andaluzia ocidental, porque como dissemos acima, de fato houve um período em que no passado toda esta zona do mundo se chamava al-Andalus.

Só que aqui, esta rota muda de nome e passa se chamar de Rota Al-Mutamid, relembrando os valores patrimoniais e a cultura que são amplamente refletidos neste personagem mítico na História do al-Andalus, cuja vida despertou o interesse de especialistas e do público em geral, ficando conhecido como rei-poeta, pelo seu amor à poesia, a ponto de percebermos e podermos apreciar a capacidade dos sevilhanos para rimar. Ele viveu em Portugal, Espanha e Marrocos, onde acabou por morrer no exílio imposto pela poderosa dinastia Almorávida.

Adalberto Alves, um dos mais consagrados arabistas portugueses, apelidou Al-Mutamid como o poeta do destino: “É uma personagem tão fascinante que algumas vezes se torna difícil definir os limites entre o que será a realidade e o mito”.

Al-Mutamid ou Muhammad Ibn Abbad

Al-Mutamid era filho e foi sucessor de Abbad Al-Mu’tadid, rei de Sevilha. Nasceu em Beja em 1040. O seu percurso de vida levou-o a ser designado governador de Silves com apenas 12 anos de idade, onde teve uma cuidadosa educação que incluía tanto as artes guerreiras quanto as belas artes.

Em Silves, passou talvez os seus melhores anos. Em 1069 ascendeu ao trono, tornando-se senhor e rei da Taifa de Sevilha e o reino mais forte entre os que surgiram no al-Andalus após a queda do califado de Córdoba.

Apaixonado e erudito conhecedor de música e poesia, cercou-se dos melhores escritores da época, produziu os seus poemas mais famosos. Amou Itimad, a filha de Rumiac, a última companheira na sua desventura, que todos conheciam por Rumaikiya :“’Itimad, terá sempre, entre todas as mulheres amadas por Al-Mu’tamid, um lugar muito especial e acompanhá-lo-á em todos os transes da sua
atribulada existência, até ao fim dos seus dias”.


No entanto, 
em 1088 a sua estrela terminou rapidamente, foi destronado pelos almorávidas e teve de se exilar em Agmat, a sul de Marrakesh em Marrocos, sorte que compartilhou com AbdAllah, o último rei zirí de Granada, outro homem de letras, vindo a falecer em 1095.

“O teu aroma tomou-me conta do olfacto

E o teu rosto lindo preencheu meus olhos:

És minha mesmo depois de me deixares

E só por isso me chamam poderoso.”

                                     Poema escrito por Al-Mu’tamid

A Rota Al-Mutamid no Algarve

O legado da dinastia árabe é muito presente na região do Algarve, uma região integrada no Califado Omíada de Damasco pelas tropas de 'Abd al-'Azīz, filho de Mūsa, governador da Ifrīqiya, atual Tunísia, a partir de 713 d.C., data que marca a chegada ao território de uma onda de povoadores islâmicos, essencialmente, originários do Norte de África, tendo se estabelecido na região até 1031 d.C.

A região do Algarve teve um caráter natural desde os primeiros momentos da chegada dos árabes à Península Ibérica, com características especiais a diferenciavam resto de al-Andalus, talvez devido à sua localização geográfica e por isso, o Algarve é o território português que teve a mais longa presença muçulmana, sendo o seu topônimo procedente do termo árabe al-Gharb

Dessa presença histórica, muito ficou na cultura portuguesa, que hoje se pode testemunhar tanto na língua, em muitos vocábulos de origem árabe, como no patrimônio artístico e construído, em sítios arqueológicos, engenhos e artefatos. Entre o conjunto de 15 bens inventariados no Algarve estão, por exemplo, os jogos de tabuleiro omíadas, expostos no núcleo de arqueologia do castelo de Alcoutim, o castelo velho desse município e um pano de muralha no castelo de Silves

Existem três cidades que o geógrafo al-Idrisi destaca nessa região: Silves, Santa Maria do Algarve (Faro) e MértolaNo entanto, a rota abrange 11 municípios, e mais 3 freguesias, num total de 36 localidades. Nela você irá percorrer os concelhos de: Aljezur, Vila do Bispo (Cabo de São Vicente) e Sagres; Silves, Monchique, Portimão (Alvor); Albufeira, Paderme e Loulé (Vilamoura); Faro (Faro, Cacela Velha e Estoi); Tavira e São Brás de Alportel; Alcoutim (Alcoutim e Martinlongo) e Vila Real de Santo António (VRSA).

Rumo ao Gharb Al-Andalus
Como dissemos acima, Lisboa é o ponto de partida desta rota. Os muçulmanos renomearam-a de “al-Us̲h̲būna” e a transformaram em um grande posto comercial e administrativo do “Al-Gharb” (Algarve). Al-Ushbūna foi renovada e reconstruída no costumeiro padrão das cidades do Oriente Médio: muralhas altas cercavam os edifícios principais, uma grande mesquita, um castelo no topo da colina (que, em forma modificada, tornou-se o Castelo de São Jorge), uma Medina ou centro urbano, e um alcácer, ou palácio da fortaleza para o governador.
O bairro de Alfama cresceu ao lado do núcleo urbano original.

A cidadela de al-Madan, agora a cidade de Almada, foi construída na margem sul do Tejo para proteger o porto.
Maquete da cidadela de Almada – antiga al-Madan 

Na direção leste, conheça a mais bela cidade islâmica de Portugal na Idade Média: Évora, que fica nas planícies do Alto Alentejo, onde predominam planícies pontilhadas de azinheiras e sobreiros, campos de trigo e colinas cobertas de mato e montanhas mediterrâneas.

A cidade universitária de Évora, até então chamada Yabura, Yabora ou Yabra, tem uma longa história.
Observando os dados arqueológicos existentes é possível delinear a forte herança do legado árabe que ainda hoje subsiste no traçado urbano e nos hábitos quotidianos dos seus habitantes.

Na estrada para o sul, Beja aparecerá pela primeira vez nas planícies alentejanas. Nos tempos islâmicos, Beja ou Bâjat que antes era romana, era uma das cidades mais importantes de Garb al-Andalus, principalmente durante os primeiros séculos. Al-Mutamid nasceu aqui, quando a cidade dependia do reino de Sevilha. No entanto, o símbolo representativo de Beja não lembra o rei-poeta, mas o rei cristão Dom Dinis, existindo somente um memorial na Praça da Cidade.

Junto ao curso do rio Sado, existem abundantes planícies de culturas de cereais, olivais e pastagens que se expandem em direção à costa atlântica, ao qual está localizada Alcácer do Sal, no distrito de Setúbal.

Esta vai adquirir importância no quadro territorial do chamado Gharb al-Andalus, ou seja, o Ocidente, passando a ser conhecida no mundo islâmico com o nome de al-Qasr Abu Danis no período califal, a partir do momento que os Banu Danis, fiéis representantes dos omíadas, desenvolvem esta praça-forte, transformando-a na chave da defesa da costa atlântica e a base militar mais importante para o emirato.

Mais ao sul, no Baixo Alentejo, fica Mértola. A cidade foi tomada pelos Abades de Sevilha nos dias de al-Mutadid (século XI), pai do al-Mutamid a que é dedicada a rota. É o rio Guadiana que dá importância a Mértola, a pequena vila alentejana que foi, durante o período da ocupação muçulmana, um centro mineiro de onde saia, para o Norte de África, ouro, prata, cobre e estanho.

A povoação de Aljezur deve ter sido nos tempos muçulmanos quase uma ilha cercada por uma lagoa marítima, pois corre ao longo da costa portuguesa na direção leste. Aljezur foi fundada pelos árabes que ocupavam a área mais ocidental de al-Andalus. Chamavam-lhe al-Yazeera (a ilha) no século X. Foi a cidade que permaneceu mais tempo nas mãos árabes, e cuja influência regional cai no século XIII com o avanço cristão. Desde então, evidencia-se o Castelo de Aljezur, que foi o último reduto árabe conquistado pelos cristãos em 1249. Um passeio pelas ruas sinuosas e labirínticas da cidade, algumas ainda com uma estrada medieval, transporta o visitante para os tempos distantes da Medina árabe.

A cidade de Sagres está localizada no canto sudoeste da Europa, onde a Serra do Espinhaço de Cão delimita o leste do Algarve e separa o resto da região, cujas encostas marítimas, cortadas por falésias, terminam na Ponta da Piedade para o sudeste, e na Ponta da Carrapateira para o noroeste, em Vila do Bispo.

Sagres constitui um ponto incontornável neste roteiro omíada. No Promontório Sagrado, mais precisamente no Cabo de São Vicente, terá sido erigida a mítica Kaniçat al-Ghurab, ou seja, a Ermida do Corvo descrita pelo geógrafo árabe Al-Idrisi no século XII. Durante o período omíada e segundo as fontes escritas, este santuário constituiu um dos principais locais de partilhada devoção e peregrinação moçárabe e muçulmana da Península Ibérica.

A cidade de Lagos foi conquistada pelas forças romanas no Século I a.C., tendo nessa altura o seu nome sido alterado para Lacobrica. No Século VIII, iniciou-se a invasão muçulmana da Península Ibérica, tendo a cidade de Lacobrica sido conquistada pelos omíadas em 716. Estes mudaram o nome à povoação, que passou a denominar-se de Halaq Al-Zawaia ou Al-Zawaia.O primeiro castelo em Lagos foi construído ainda durante o período islâmico, devido à sua localização como ponto para a defesa costeira, e ao mesmo tempo como acesso à importante cidade de Silves. Este recinto fortificado teria sido construído ainda nos primórdios do período califal, durante o domínio de Abd al-Rahmman III, mas foi completamente destruído devido a sucessivas obras nos séculos seguintes.

Novamente, Al-Idrisi, sempre preciso na descrição das cidades andaluzas, conta que Madinat Xilb (Silves) possuía uma grande muralha que a protegia, importantes infraestruturas e que sua economia se baseava no comércio de madeira. Isso no século XII. O nosso protagonista, al-Mutamid, foi nomeado governador de Silves ainda criança. Nesta cidade, descobriu a poesia com Abu Bakribn Ammar, que acabou por se tornar o favorito do jovem príncipe. Esta cidade é um marco na biografia do “nosso” rei e uma paragem obrigatória na rota.

Em Alvor (Portimão) da urbe islâmica designada por Al-Būr, topônimo árabe que substituiu o nome latinizado de Ipsa (Ipses), pouco se conhece. No Largo do Castelo, um pequeno hisn, garantia a proteção do povoado piscatório contra o desembarque de inimigos, na praia. A origem do castelo pode estar associada aos finais do emirado ou inícios do califado omíadas, devido à planta quadrangular do imóvel e ao aparelho utilizado. A população de Al-Būr beneficiava da produtividade da Ria de Alvor, área úmida, que resulta da união de cursos de água nascidos na encosta sul da Serra de Monchique. Aqui a ria corta a paisagem litoral, marcada pelas formas e pelo colorido das falésias.

Localizado na proximidade de Monchique, o Castelo do Alferce é um povoado da Idade de Bronze, com continuidade de ocupação pelo menos até ao fim da época emiral omíada que, no século VIII, desenvolveu uma função de hisn ou refúgio. O sítio terá sido abandonado o mais provavelmente, no século XI. O Castelo do Alferce, protegido pelos montes circundantes, ocupa uma extensa área, no cimo de um cabeço elevado, na parte oriental da Serra da Picota. A partir dele tem-se amplo domínio visual até ao litoral.
Em Vilamoura, o museu arqueológico, Cerro da Vila, possui as ruínas de uma villa romana com banhos e mosaicos. O local foi igualmente ocupado por visigodos e por muçulmanos conforme atesta um conjunto de silos da época islâmica, abertos no interior das casas romanas. No período islâmico no século IX é uma família local, os Banu Bakr, que detém o controlo da região. O significativo valor arqueológico das ruínas e do espólio de peças encontradas e expostas no Museu do Cerro da Vila justificam uma visita ao local.

Nas terras do interior, Paderne aparece como patrimônio e tesouro natural. Esta localidade faz parte desse Algarve secreto e único que às vezes passa despercebido ao visitante. A atual localização de Paderne remonta ao século XVI, quando o castelo que deu origem à cidade no século XII foi abandonado. O Castelo de Paderne, outra paragem obrigatória, ainda pode ser visitado a dois quilômetros ao sul da cidade.

Loulé ou al-UIya, de acordo com as crônicas árabes, teve que emergir numa fase tardia do domínio islâmico e teve o seu tempo de esplendor na era Almohad, um período ao qual pertence a maioria dos restos arqueológicos encontrados na cidade. O recinto amuralhado de Loulé tem cerca de 5 hectares e abrangeu a Alcazaba desaparecida.

Entre o litoral e o barrocal algarvio encontra Estói e as famosas Ruínas Romanas de Milreu. O local manteve-se ocupado durante o período omíada e ainda hoje pode reconhecer a casa senhorial, as instalações agrícolas, a zona de balneário e um templo.

O Algarve tem uma antiga tradição comercial marítima que remonta à era fenícia. A cidade de Tavira que em árabe, Tabîra quer dizer “a escondida”, era um importante enclave fenício, localizado ao redor do rio Gilão. Com a chegada dos árabes ao Ocidente islâmico, que era o Algarve para seus novos habitantes, o pequeno centro urbano existente acabou por se tornar uma cidade de maior projeção, especialmente desde o século XI. Mas é no Museu de Tavira, onde podemos apreciar aquele que ficou conhecido como o "Vaso de Tavira", uma peça de cerâmica, sem exemplos semelhantes no mundo islâmico, descoberta quase onde ela se encontra agora exposta, a dois metros de profundidade, feita em pedaços numa lixeira do século XI.

A prosperidade e a rica urbe islâmica de Faro– mas se preferirem podem de al-Harun (فارو), Shantamariyyat al-Gharb (شنتمريّة الغرب) ou Ossónoba– alicerçaram-se quer na navegabilidade do seu porto, quer na produtividade dos seus arredores. O porto estendia-se por todo o atual largo, fronteiro à Vila-a-Dentro, com as águas das marés vivas a banharem as muralhas da cidade e a criarem uma zona alagadiça, em grande parte do atual terreiro de São Francisco e Jardim Manuel Bívar. A entrada da cidade, para quem vinha do porto de abrigo, fazia-se por uma porta, em cotovelo e da qual persiste, incrustado numa construção setecentista, o único arco de ferradura in situ de todo o Algarve, atribuído ao séc. XI. O percurso da muralha está perfeitamente individualizado, no conjunto da atual cidade, apesar dos restauros e adaptações.

São Brás de Alportel encontra-se envolvida por colinas onde abundam as estevas, os sobreiros e os medronheiros. A primeira alusão a Sanbras aparece referenciada na fonte árabe al-Hulla al-Sayara, obra escrita no século XIII por Ibn al-Abbar, onde surge sob a forma de Xanabûx. Contudo, pouco ainda se conhece acerca da história de São Brás de Alportel que teria sido em época islâmica uma povoação fortificada. 

CacelaVelha, terra natal do poeta Ibn Darraj al-Qastalli (958-1030) está localizada no concelho de Vila Real de Santo Antonio. Na época omíada, Qast´alla, Cacela em árabe, fora conquistada em 713 por forças califais de Abd al-Aziz ibn de Musa, o primeiro governador militar dependente do califa omíada de Damasco (661-750).

Logo que o viajante passa a fronteira, encontra junto ao Rio Guadiana, as salinas da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, podendo optar por continuar a Rota Omíada acompanhando o percurso do rio. Durante o trajeto irá descobrir castelos e fortalezas que surgiram no âmbito das lutas territoriais de demarcação de fronteira entre Portugal e Espanha, como um castelo em Castro Marim, o Forte de São Sebastião e rústicas aldeias até chegar a Alcoutim e Martinlongo.

Em Alcoutim, os testemunhos arqueológicos concretizam-se num pequeno alcácer datado do séc. IX. Também no interior do castelo da vila, construído no séc. XIV, está exposta a maior coleção, conhecida até ao momento, de jogos de tabuleiro do período omíada.

A paisagem arrebatadora entre Salúncar do Guadiana e Alcoutim – as duas vilas gémeas do rio Guadiana, como afirmou José Saramago, que esteve por estas bandas em uma viagem a Portugal.

Chegamos a visitar Ayamonte...

...Badajoz– que não sei por que, mas não aparece na rota, já se tornou durante o período muçulmano (al-Andalus), uma cidade importante e a capital do reino taifa de Badajoz, entre 1021 e 1031, sendo batizada pelos seus fundadores muçulmanos Batalyaws (em árabe: ﺑﻂﻠﻴﻮﺱ)

e Sevilla...
Estávamos para completar a parte da Andaluzia quando fomos surpreendidos pelo Covid-19 e não pudemos continuar...
Se vocês turistas que, não quiserem passar o tempo todo deitados na areia ou a jogar golfe, nas suas próximas férias algarvias, não deixe de fazer esta viagem pelos caminhos antigos da região. Basta clicar sobre o nome de cada cidade para conhecer mais do legado omíada no Algarve e aproveite para experimentar a gastronomia local e viver tradições ancestrais, levando consigo a memória de umas férias inesquecíveis!

You Might Also Like

0 comentários

Mapa Interativo

Instagram

Pinterest