Roteiro de viagem a Alcoutim

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Alcoutim é uma pequena vila aninhada num canto sonolento do Algarve, que faz fronteira com a Espanha e com a região do Alentejo. Um concelho formado por cinco freguesias, pertencente ao círculo judicial de Faro e à comarca de Vila Real de Santo António que fica a 40 km.

Com uma população estimada em cerca de três mil habitantes e cada ano que passa tem a tendência a perder mais. Alcoutim é também um concelho envelhecido e abandonado pelos mais novos, no entanto, poderia se transformar num verdadeiro paraíso se a civilização não destruir por completo o despertar do visitante para este concelho que tem uma quantidade surpreendente de história territorial que deixa possivelmente a desejar a muitos outros de Portugal

Por isso, convido você visitante, deixar-se encantar por esta preciosa vila com longa história como porto fluvial, um lindo traçado rodoviário que abraça o sedutor rio Guadiana a passar aos seus pés e toda uma natureza que proporciona uma pausa verdadeiramente relaxante, tornando um regresso ou uma escapadela maravilhosa ao autêntico e típico Algarve, possivelmente desfrutável num dia de viagem.


Como chegar a Alcoutim?

Chegar a Alcoutim de transportes públicos é um pouco complicado. Primeiro você precisa chegar ao Terminal Rodoviário de Vila Real de Santo Antonio e de lá pegar um ônibus para Alcoutim. Se você estiver vindo de Faro, poderá chegar a Vila Real Santo Antonio apanhando um comboio ou um autocarro. Também pode apanhar um autocarro para Alcoutim a partir de Mértola e Beja, embora estas ligações sejam na região do Alentejo e sejam menos frequentadas por turistas do que as do Algarve. Você pode conferir todos os horários dos ônibus no site da EVA e dos comboios no site da Comboios Portugal.

Chegar em seu próprio veículo é potencialmente a melhor escolha. O aluguel de automóveis está disponível em Faro, e normalmente com preços razoáveis ​​por um ou dois dias. Com longos trechos de asfalto, desertas curvas e agradáveis vistas aparentemente infinitas do Guadiana, é um passeio com paisagens impressionantes.

Como se deslocar em Alcoutim?

Tudo está a uma curta distância a pé, então, assim que chegar, você provavelmente estacionará seu veículo e se esquecerá dele. Há alguns locais mais longe que você precisará dirigir, só então será necessário para completar sua viagem em Alcoutim.

O que ver e fazer em Alcoutim?

As ruas estreitas e íngremes de Alcoutim conservam muito do ambiente calmo típico de uma vila serrana algarvia. Com apenas alguns minutos a pé, você descobrirá casas históricas, artesanato local e monumentos históricos. Depois de passear, recomendamos fazer uma breve parada na beira do rio à sombra de um café. É um lugar tranquilo onde você pode observar as pequenas balsas e os barcos de recreio indo e vindo.

O nome Alcoutim vem do árabe القطامي (Al-Qutami), que significa falcão-peregrino – o maior em Portugal e o mais veloz no mundo.

No entanto, sabe-se que Alcoutim surgiu bem antes, pois menires e antas testemunham a presença humana no final do Neolítico e início do Calcolítico, cerca de 5.500 a 4000 anos a.C., no âmbito da cultura megalítica que abrangeu todo o território português.

A 15 minutos de carro, para noroeste de Alcoutim pela EM507, descobre-se os magníficos monumentos megalíticos do período Neolítico que são os Menires do Lavajo. Dois menires edificados provavelmente entre 3500 e 2900 antes de Cristo. Estes monólitos, talhados em um bloco com secção elipsoidal é o maior menir de grauvaque conhecido até hoje em Portugal e dos mais importantes do sul peninsular. Apresenta uma rica e diversificada decoração com círculos e outros elementos.Porém, desde 2500 a.C. até ao período da ocupação romana são as jazidas de cobre, ferro e manganês que atraíram os homens levando à escavação de várias minas e à fundição local dos minérios, que eram transportados Guadiana abaixo até ao Mediterrâneo e, mais tarde, ao vasto espaço do império. 


Presumivelmente, a fundação de Alcoutim neste local está associada ao fato de ser onde se fazem sentir as marés do Guadiana, que obrigavam os barcos que faziam o tráfego dos metais e de outros produtos a aguardar durante horas as condições propícias à descida do rio. Fato que exigiu, necessariamente também, a existência de estruturas de apoio e de defesa.

Por isso, no topo da vila, numa elevação sobranceira ao rio, está implantado e impera o Castelo de Alcoutim. Pesquisas arqueológicas preliminares, efetuadas no interior do recinto do castelo, indicam que a ocupação humana deste sítio remonta à pré-história e terá sido ocupado na Idade do Ferro. Também, de acordo com as escavações arqueológicas efetuadas, foram identificados vestígios da posterior invasão romana da Península Ibérica.

Ainda pela EM507, agora para sul de Alcoutim fica outro agrupamento de ocupação romana, próximo da povoação de Montinho das Laranjeiras. 

As escavações realizadas demonstram que as ruínas do Montinho das Laranjeiras incluem três áreas distintas, a “pars fructuaria”, a “ecclesia” e os “buyut”, respectivamente da época romana, visigótica e islâmica, tendo sido ocupada desde o séc. I a.C. ao séc. XIII d.C. O agrupamento funcionava como mercado para os mercadores que navegavam o rio Guadiana e inclui sepulturas e até uma piscina.

Com a conquista muçulmana da Península Ibérica, no século XVIII, os árabes aproveitaram os antigos edifícios romanos e sediaram aqui também. A prova é um antigo povoado árabe que fica cerca de 1 km de Alcoutim. 

Atravessando a ribeira de Cadavais por uma moderna ponte, erguem-se num morro sobranceiro ao rio as ruínas do Castelo Velho de Alcoutim considerado um monumento ímpar do período islâmico de Portugal.

A sua tipologia corresponde a uma fortaleza rural da época muçulmana, constituída por um conjunto de muralhas e compartimentos, edificados com muros de xisto ou grauvaque e foi ocupada desde os sécs. VIII-IX na época dos Emiratos – uma Dinastia Omíada originária de Meca, Arábia Saudita– até ao séc. XI período dos reinos de Taifas.  No seu auge era um elegante palácio fortificado com funções de residência e construído para realizar de controle da navegação e do comércio mineiro sobre o rio Guadiana, mas com as lutas internas no mundo islâmico, a fortificação foi abandonada antes da chegada dos mouros almóadas, mais fundamentalistas do Norte de África – séculos XII-XIII.

Após a reconquista cristã, Alcoutim passa para domínio do reinado de D. Sancho II, em 1240. Altura em que também são conquistadas Mértola, Alfajar da Pena e Ayamonte, atualmente da Espanha – e passam a ser terras da temerosa Ordem Militar de Santiago.

A vila de Alcoutim é repovoada pelo Rei Dom Dinis, que em 1304 lhe concede foral e, atendendo à sua posição estratégica em relação ao vizinho reino de Castela, faz a sua doação à Ordem Militar de Santiago.

E por ordem dele, o Castelo de Alcoutim que se encontrava em ruínas, terá a sua reconstrução iniciada no início do séc. XIV, como defesa de fronteira  que passa agora a ser conhecido como Castelo NovoTendo sofrido algumas alterações nos sécs. XVI e XVII, mas conserva ainda parte do adarve (caminho de ronda) e ameias com seteiras. Além de, ainda oferecer belas vistas sobre a vila, o rio Guadiana e da vila espanhola de Sanlúcar de Guadiana, no seu interior funciona também o Museu de Arqueologia da vila de Alcoutim.


No Museu de Arqueologia estão além de vestígios das edificações, alguns objetos encontrados no local e  descobertos durante as escavações, estão também expostos os achados arqueológicos do concelho de Alcoutim, como os mosaicos encontrados no Montinho das Laranjeiras; os fragmentos de tambores cerâmicos e tabuleiros de jogos que nos revelam as atividades de lazer dos residentes, encontrados no Castelo Velho


Época também em que, foi construído um dos melhores exemplares do primeiro Renascimento no Algarve, a Igreja Matriz de São Salvador de Alcoutim. Erguida entre 1538-1554 no local de uma igreja medieval, sofrendo alterações posteriores. Elegante portal encimado pelo brasão dos marqueses de Vila Real e pelo dos condes de Alcoutim, com o característico entrelaçado de ramos de azinheira e a inscrição “Alleo”, associada ao levantamento do cerco mouro à recém-conquistada cidade de Ceuta por D. Pedro de Menezes (1418/19).


Interior de três naves e quatro tramos. Colunas rematadas por bonitos capitéis corínteos. Capela-mor e capelas laterais com retábulos de talha. Interessante conjunto de imaginária religiosa. Na sacristia, três frestas ogivais.


Já a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, um templo manuelino do séc. XVI, que substituiu a primitiva construção gótica, resta o portal. O atual edifício é uma reconstrução do séc. XVIII. Um interessante escadório barroco dá acesso a um amplo adro que é, também, um magnífico miradouro sobre a vila e os campos circundantes.

As paredes caiadas, a cúpula redonda do altar-mor e o sino sobre o portal, guardado por um ninho de cegonhas, compõem um pitoresco quadro tipicamente algarvio. Destaque para a imagem de Nossa Senhora da Conceição e para o retábulo barroco do altar-mor (séc.XVIII).

Porém, não há muito a dizer sobre a data de edificação da sóbria Ermida de Santo António, este pequeno templo religioso, também conhecido como Igreja ou Capela da Misericórdia. Pela proximidade, acredita-se que esteja relacionada com a Casa dos Condes, pois fica a um minuto da capela, pela Rua 1º de Maio e Avenida Duarte Pacheco e que tenha servido de templo privado dos mesmos. Razões pelas quais colocaram a edificação como sendo dos finais do século XVI e inícios do XVII e com a denominação de Santo António, tendo em vista que o conde tenha recebeu o título no dia 13 de junho, dia deste santo. 


Supõe-se que este edifício tenha sido a antiga residência dos Condes de Alcoutim, depois da atribuição concedida aos primogênitos do Marquês de Vila Real pelo Rei D. Manuel I em 1496. Hoje, a antiga Casa dos Condes de Alcoutim é mais uma referência da vila que sofreu transformações arquitetônicas realizadas pelos militares nos séculos XVII e XVIII. Este edifício foi remodelado em 1998, albergando atualmente a Biblioteca Municipal e uma galeria de exposições.

Depois de séculos e séculos, este concelho que foi cobiça de vários povos que aqui se fixaram, o Guadiana a servir de elemento essencial na construção deste povoado e de até as guerras liberais chegarem aqui... Contudo, com a queda da exploração mineira, a agricultura se tornando difícil com os solos pobres, a distância em relação ao litoral e a perda de importância do rio Guadiana como via de transporte, a verdade é que, tudo isso conduziram Alcoutim e o seu concelho a um longo período de estagnação econômica e Alcoutim acabou por cair um pouco no esquecimento, progressivamente alterada nas últimas décadas, com a construção de alguns edifícios mais modernos.

Portanto, o que não falta em Alcoutim e seus concelhos são os contrastes, pois apesar de ter perdido as muralhas que durante séculos a cercaram, ainda tem a moldura escura de um forte castelo. 

E um passeio de alguns minutos subindo ladeiras por ruas estreitas, levam à descoberta de singelas casas centenárias de paredes com a cal que mancham de branco este casario coroados pelas chaminés tipicamente algarvias.

Contrastando com a pequena Praça da República, que embora mais moderna ainda mantém o lado típico da atmosfera tranquila de uma vila serrana. Esta praça é a única existente na vila, a porta de saída como a de entrada, como também o ponto de partida e chegada da exploração da vila.

Aqui neste pequeno largo, tem no seu perímetro a Junta de Freguesia, entidade máxima da vila que recebe todo o visitante que por aqui passe, encontrando nela tudo que necessita, como alojamento, restauração, lojas de recordações, banco e caixas multibanco.

 E se prestar atenção, estando ainda a poucos metros da Antiga Alfândega.

Uma terra que tem como vizinha a Espanha, simplesmente separada pelo rio Guadiana, torna-se inevitável que Alcoutim tenha uma alfândega. Mas num tempo em que a globalidade faz a diferença, o edifício acaba por se tornar mais num símbolo de referência dos antigos tempos do que propriamente arquitetônico.
Estas são algumas das impressões de Alcoutim que seduzem o visitante, que o levam a percorrer as suas ruas tranquilas e descer até à beira-rio, sentar numa esplanada em frente à água, saboreando uns momentos de repouso, na companhia de uma bebida fresca, enquanto aprecia o regresso de um barco de pesca ou a elegante silhueta dos veleiros ancorados na pequena marina ou a povoação espanhola de Sanlúcar de Guadiana – São Lucas do Guadiana, na outra margem.

Depois de algumas horas tem mais coisas interessantes para ver, já que também devido a sua posição geográfica, Alcoutim permitiu, em tempos remotos e até ao século XX, a existência de três personagens tidos como principais que contribuíram no desenrolar e desenvolvimento da história e da vida quotidiana. Situados em posições estratégicas da vila, cada um no seu local e todos eles no espaço considerado cais velho, numa tentativa de simbolizar o que cada um representava como:
Pescador

Situado junto à Capela de Santo António, o Pescador representa uma atividade exclusivamente artesanal e que se destinava a subsistência das populações ribeirinhas. Aqui o visitante pode observá-lo sentado no conserto das redes de pesca, uma das artes que se manteve ao longo dos anos.
Contrabandista

Perto da Igreja, junto ao rio Guadiana e próximo das muralhas medievais, como é óbvio, tem o Contrabandista (uma estátua de Teresa Paulino e Pedro Félix), que simboliza a importância do contrabando entre as duas vilas, a portuguesa Alcoutim e a espanhola Sanlúcar durante o século XX. Com o rio a passar em Alcoutim, permitiu uma atividade que se não teve momentos de expansão teve, contudo muitos frequentadores, uma vez que a região era muito pobre. Atividade que implicaria nas finanças locais e não só, onde se contrabandeava basicamente o trigo e outros cereais, figos, café, ovos, animais de grande porte e outros produtos. 
Guarda Fiscal

Finalmente o Guarda Fiscal, que está posicionado muito perto da antiga alfândega. Foi criado em 1885 pelo Ministério da Fazenda, justamente para terem um controle sobre as fronteiras e o rio, e consequentemente, vigiar todos aqueles que se dedicavam ao contrabando ou a passagem ilegal de pessoas. E com esta surgiu a oportunidade dos jovens de fugir ao trabalho duro e árduo do campo, dando-lhes garantias no final da vida destes.

Além de todo o patrimônio histórico e arqueológico, há ainda um patrimônio cultural ligado ao rio. Uma estrada à beira-rio permite seguir o Guadiana até Álamo, num percurso constituído por uma paisagem de beleza agreste suavizada pela água, pelo verde, pelas flores e para ver a curiosa Rocha dos Livros, que sugere uma estante feita de pedra.

Em Alcoutim ou em Guerreiros do Rio podem ser alugados barcos para subir ou descer o Guadiana, de onde melhor se descobrem os muitos encantos do rio. Descendo, é um longo e encantador percurso feito de curvas suaves e do pontilhado branco do casario das povoações ribeirinhas. 

Além dos atrativos da paisagem, as margens do Guadiana têm para os que apreciam a história, valiosos testemunhos do passado, como o curioso Museu de Etnografia e Natureza ou Museu do Rio instalado na pitoresca povoação de Guerreiros do Rio, que nos narra histórias do rio Guadiana como fronteira e de atividade de contrabandistas e pescadores durante o século XX.


Aqui encontra pormenorizadas réplicas de barcos que navegavam o rio e as artes de pescas utilizadas. Todo o tráfego aqui, nesta zona ribeirinha, era feita de barco, os serviços de correios, a fiscalização pelo guarda fiscal, até os serviços funerários eram feitos de barco. 

Há ainda um patrimônio cultural ligado ao artesanato. Alcoutim é reconhecida pelo artesanato, especialmente bordados, tapetes de lã ao estilo de Arraiolos e cerâmica.

gastronomia conta com comidas típicas da região, sendo o prato forte as enguias/eirós, com variados grelhados, com porco-ibérico, com bacalhau (cozido e assado) e ainda com deliciosas sobremesas.


Uma maneira diferente e talvez única, que a vila encontrou para exemplificar a vida quotidiana desta vila raiana, como a sua história, artesanato, artes e ofícios e, finalmente, as personagens locais é na proporção de azulejos. O visitante que chega a Alcoutim pelo lado sul vai encontrar um verdadeiro Mural de Azulejos.

É algo de inédito que chama a atenção de todo o visitante, mesmo para os mais despreocupados.


E se você estiver visitando a cidade no verão, Alcoutim tem a radiante Praia Fluvial do Pego Fundo, que fica a 500 metros do coração da vila. Um lugar ideal para se refrescar nas plácidas águas da Ribeira dos Cadavais, antes que deságue no Guadiana. A praia é vigiada e com serviço de bar.

Assim é Alcoutim!Dos férteis pomares e das horta, ao qual estevas, azinheiras e algumas oliveiras dão leve pinceladas de cor... 

Das aves que gorjeiam nos ramos das árvores e dos carneiros a pastarem na relva...

Dos espaços amplos onde se encontra a natureza e a tranquilidade para apreciar o amontoado de flores silvestres e o rosa pálido de milhares de amendoeiras em flor, ...


Por fim, continuando para sul das ruínas romanas, pela EM507, chega-se ao Miradouro do Pontal,  onde se avista o ocre escuro dos montes redondos como seixos rolados, com o azul do rio emoldurado pelo verde fresco da vegetação ribeirinha...um ponto excelente para se despedir de Alcoutim...

...voltando para casa no final do dia com este lindo por do sol e o sentido que aprendemos muito e que ao retratar o que vimos nesta postagem, estamos contribuindo para que histórias de lugares como os de Alcoutim não caiam no esquecimento...



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