Varanasi | Índia

14:35

De Agra, voltamos por via terrestre, numa viagem de aproximadamente 4 horas para o aeroporto de Delhi. De lá embarcamos num voo de pouco mais de 1 hora para Varanasi, pois Agra não é provida de aeroporto; por terra são mais de 600 km e por ferrovia são mais de 13 horas de viagem. De Délhi para Varanasi a melhor opção é mesmo de avião.

Como já disse em postagens anteriores, você tem que estar preparado mentalmente para encarar a Índia para não estragar sua viagem com os incômodos que encontrará e se até aqui venho falando do caos, dos cheiros, das cores, das vacas, do trânsito, da poluição, da pobreza que já vimos passamos por outras cidades da Índia, nenhuma chegou perto de Varanasi, onde realmente você é testado em todos os sentidos: o caos e o choque parecem ser potencializados, em todos os lugares e a toda hora. Uma cidade única, que vibra com as forças cósmicas, além da compreensão. 
Varanasi é uma das cidades mais caóticas da Índia, com milhares de pessoas, macacos, vacas, cães e todo tipo de animais passeando-se pelas ruas imundas. A cidade tem uma diversidade inigualável e um sentimento que você não viverá em nenhuma outra parte do mundo. Ela é tudo aquilo que tinha ouvido falar: suja, fedorenta e espiritual.
Varanasi está localizada à margem oeste do Rio Sagrado Ganges, no estado de Uttar Pradech. É a junção de dois rios que correm para o Ganges — o Varuna, no norte e o Assi, no sul. A cidade original era Kashi situada nestes dois pontos, mas é conhecida pelos mais velhos como Benarés. (Varanasi—Kashi—Banaras).
Desde tempos antigos, reconhecidamente, Varanasi é a cidade habitada mais antigas do mundo e a cidade de Shiva, principal deus Hindu, por isso, tem sido um grande centro religioso para eles e um dos lugares mais sagrados de peregrinação, sendo visitado por milhões de pessoas todos os anos.  
Rio Ganges
Da sua nascente, no Himalaia, à sua chegada ao mar, no golfo de Bengala, o Ganges é um dos mais importantes rios a nível mundial, mas é, sobretudo, o mais sagrado de todos. E de todas as cidades que pontuam às suas margens, Varanasi, é a mais venerada.

O Rio Ganges, que representa a destruição de tudo o que existe, a perspectiva de um novo começo e a principal razão da fama da cidade, é uma mistura de água, cadáver, lixo e bosta, nem sempre de animais. 

Diz-se que em muitas partes do rio, não existe mais nenhuma molécula de oxigênio e, consequentemente, nenhum ser vivo. O rio é morto e, ainda assim, cheio de vida devido às celebrações religiosas que acontecem diariamente dentro e fora dele.

Para os Hindus a morte é encarada como recomeço. Morrer e ser cremado no Ganges é a forma mais elevada de purificação. Por isso, é ali que a maior parte dos indianos deseja morrer, pois acreditam que é o caminho mais direto para nos fundirmos com o Universo, sem necessidade de voltar a sofrer mais vidas, ou seja, não precisa mais reencarnar. 
São muitos os que querem passar à beira do Ganges os últimos dias de suas vidas, escolhendo morar em asilos em Varanasi quando sentem que o fim da vida se aproxima. Dando origem, nesta área, a um gigantesco complexo de casas que alberga hindus vindos de todos os pontos da Índia. Só para terem a honra de encerrar mais um ciclo às margens do rio sagrado. Acredito que, por isso, há tantos idosos na cidade.
Celebrações Religiosas

Em Varanasi, uma das paradas obrigatórias de todo turista é presenciar os rituais matutinos às margens do rio Ganges. Ao nascer do sol, o nevoeiro nem se levantou ainda, mas é inacreditável a quantidade de criaturas, peregrinos e fiéis hindus que descem as escadarias para a água parda do rio para prestar homenagem ao deus-sol. 
Acordar bem cedo e um tradicional passeio de barco pelo Ganges nos ajuda a entender melhor a história daquele local sagrado e como a presença do rio afeta a vida dos indianos. 

Numa questão de dezenas de metros, há de tudo um pouco: imersão na água, três gotas na boca, raspagem de cabelo, pessoas escovando os dentes, fiéis fazendo orações e entregando oferendas, homens santos meditando lado a lado com turistas estrangeiros ocidentais boquiabertos, onde ricos e pobres se encontram sem distinções, famílias se divertindo, pescadores lançando suas redes, jovens praticando ioga, mulheres lavando roupas, um gigantesco cano despejando litros de esgoto in natura no rio e corpos sendo cremados. 

Não dá para explicar como isso funciona, só vendo para crer e entender, pois cada pessoa toma suas próprias lições e conclusões.
Ghats
São grandes escadarias que se estendem ao longo do rio. Batizadas de Ghats pelos Hindus, elas recebem diferentes celebrações religiosas. Cada uma é devotada a um deus e possui sua própria história e finalidade. Em uma delas, por exemplo, não é comum que as pessoas tomem banho, pois acreditam que as águas daquela parte do rio causam brigas no casamento.

Além de ver os Ghats destinados à lavação de roupa, banho de búfalos, banho de gente e meditação, de dentro do rio também é possível ver os locais reservados à cremação dos mortos, os shmashan ghats. Junto ao Ganges, o fogo queima os corpos, cujas cinzas se misturam instantaneamente com as águas.


No principal Ghat funerário, de 100 a 300 corpos são cremados por dia. Aquelas chamas queimam anos e anos a fio, ininterruptamente... mas para ter a honra de se despedir do mundo ali é preciso que sua família pague cerca de 2000 rúpias (R$100) pela madeira oleada que disfarça o cheiro da cremação. Parece pouco, mas esse valor, somado a outros gastos do velório e da viagem até Varanasi, torna este um sonho impossível para a maior parte dos indianos. 
Os corpos são colocados em macas, enfeitados e lavados no rio. Macas cobertas com saaris vermelhos pertencem a uma mulher jovem, se a cor é dourada, a mulher era mais velha. O branco enfeita as macas dos homens. Apenas crianças, consideradas puras, e as mulheres grávidas, que carregam um ser puro, não são cremadas.
Você pode chegar bem perto das pilhas de cremação e assistir todo o ritual, a chegada do corpo, os últimos ritos e o fogo ser aceso. As cenas são chocantes para a nossa cultura, não apenas pela cremação ao ar livre, mas também por tudo que cerca o lugar(o que mais me chocou foi ver animais comendo os restos que não queimaram, vacas deitadas próximas para sentir o calor do fogo...). 

Por mais exótico e interessante que tudo aquilo possa parecer para você, a cerimônia é uma espécie de velório. Exatamente por este motivo, é proibido e desrespeitoso tirar fotos das fogueiras, para não desrespeitar a dor das famílias que muitas vezes viajaram quilômetros até ali para se despedirem de seus mortos.

Descendo do barco e voltando para o hotel, mais surpresas aguardam o viajante: Odores de incenso, urina, temperos e flores, disfarçam o cheiro da carne queimada e as pilhas de lenha irrompem pelas ruas dentro.
Enquanto caminhávamos por vielas e um labirinto de corredores na velha Varanasi, milhares de templos, santuários e imagens dos deuses Shiva, Durga, Ganesh, Hanuman, Kali, Vishnu estão espalhados por todos os cantos e prateleiras. Inúmeros artesãos e artistas das mil e uma noites comercializam artigos belíssimos de seda, bordados, vestidos, mantos, pedras preciosas, peças e estatuetas de bronze.

E também muitas vacas, a procura de alimentos em restos de lixo... 
Para alguns ocidentais, o cenário é impactante; outros entram em sintonia e mergulham profundamente no caos e espiritualidade hindu. Não há como escapar ileso... 
Sarnath
Para dar uma aliviada no impacto da manhã, à tarde, fizemos um passeio por Sarnath, localizada nos subúrbios da cidade, aproximadamente a 10 km de Varanasi.
Onde, acredita-se que Buda Sidarta Gautama proferiu seus primeiros sermões sobre o darma aos seus cinco discípulos, após a iluminação, há quase 2.500 anos atrás.

A cidade é reverenciada pelos budistas.Visitamos o Templo Budista 

Sítio Arqueológico 
A Ashoka Pillar 

Caminhamos também, ao redor do Parque do Cervo, que contém alguns dos mais impressionantes monumentos budistas, como Stupa Dharmarajika, uma das mais antigas estupas de toda a Ásia.

Construída pelo Imperador Ashoka no século III a.C. Diz-se que a marca o local onde o Buda deu seu primeiro sermão. 
Ganga Aarti
Antes do pôr do sol, agora sentados em um riquixá, voltamos ao Rio Ganges para assistir ao Ganga Aarti. O percurso era pequeno, mas a viagem parecia interminável naquele barulho ensurdecedor de buzinas, uma imensa confusão de trânsito em que se misturavam motocicletas, riquixás a pedal e motorizados, muitas vacas e muita, mas muita poeira... Em alguns lugares nem se via o chão, coberto que estava por um mar de gente em movimento. As imagens eram surreais, em dados momentos parecia que estava sendo personagem de filme. Estaria eu num filme de Indiana Jones?? rsrsrs...
Bem, o Ganga Aarti é um ritual hindu, onde velas e lâmpadas a óleo são acesas em oferenda aos deuses, além da entoação de cânticos e mantras. Diariamente, a cerimônia é realizada num dos maiores ghats, o Dasaswamedh. À medida que o sol começa a se pôr, sinos, gongos e cantos enchem o ar movendo-os em uma saudação circular à Deusa das ofertas.
Durante a cerimônia, centenas de pessoas vão até o rio para agradecer e soltar oferendas no Ganges, enquanto sacerdotes conduzem a celebração com incenso, velas e músicas em uma das demonstrações de espiritualidade mais intensas que você pode imaginar.
 Até meu marido entrou no clima!
Turistas e locais se aglomeram nas escadarias para assistir o ritual, que é dedicado a Shiva, ao rio Ganges, Surya (deus do sol), Agni (deus do fogo) e para todo o universo.
Pode-se assistir a tudo das escadarias ou de dentro de um barco e até soltar sua própria oferenda em agradecimento. Não vai ser difícil comprá-la das mãos de um dos muitos vendedores ambulantes que percorrem os Ghats.
Varanasi foi nossa última cidade na Índia e ela veio com tudo para nos derrubar. Não vou amenizar a verdade, mas começou com o motorista nos levando para o terminal errado no voo de Delhi para Varanasi. Apesar de estar sempre em contato com alguém da empresa não foi informado o terminal para ele. Depois, o representante da Sita não foi autorizado a entrar no aeroporto. Tivemos que fazer o check-in e despachar a bagagem sozinhos.
No Hotel Rivatas by Ideal, o chão da sala estava cheio de poeira; parecia que não tinha sido limpo há vários dias, a colcha que cobria a cama estava suja, as toalhas de banho deviam ter sido lavadas nas águas do rio, pois a cor estava muito escura e cheiravam mal. 

E para fechar com chave de ouro, aqui tivemos o pior guia desta viagem! Ele estava disposto a explicar, mas em uma tentativa de ser amigável, ele acabou se tornando uma pessoa muito chata e inconveniente. Ele não agiu como profissional. Em uma conversa entre ele e o motorista, percebemos que eles estavam falando mal de nós. Apesar de casado, ficou o tempo todo assediando a minha filha.
Além disso, ele não pagou os barqueiros que nos levaram para o passeio no rio Ganges de manhã e nem à noite. Nem pagou os dois homens que nos levaram no passeio de riquixá. No final do passeio ele nos pediu para dar uma gorjeta a cada um. Dar gorjetas é uma prática na Índia, e nós sempre fazíamos, mas os homens estavam esperando um pagamento pelo serviço e ficaram muito chateados, pareceu que estávamos sendo injustos, sendo que este passeio já estava no pacote. O guia agiu de má fé, explorando os pobres homens. 

No entanto, superado os percalços e como vocês viram foram muitos, acabei saindo de lá apaixonada, com uma dorzinha no coração, pois apesar de tudo é possível ter uma experiência enriquecedora, aprender a cultura e conhecer esta fantástica e incrível Índia. 
Confesso que entendo o porquê de ter tanta gente que odeia. Não é um destino fácil, simples, leve… Mas é um países fabuloso, interessantíssimo, muito rico e profundo. 

Assim sendo, despeço-me com o sentimento que tive quando parti da Índia. Um enorme vazio! É claro que virão outros países fabulosos, mas a Índia é especial. Foram tantas coisas lindas que conheci naquele país, dias intensos, de contrastes enormes, de choques e de muito aprendizado, que ficarão marcados para sempre. E como dizem: você pode até ir embora da Índia, mas ela nunca mais irá embora de você!

Namastê!!

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