Saiba o que visitar em Zamora, uma formosa cidade
muralhada espanhola, “capital do românico”, que se ergue na margem do Rio
Douro, detentora dum riquíssimo património histórico, cultural e gastronômico.
“Não se ganhou Zamora numa hora”, tampouco, consegue-se visitar numa hora. Mas chega-se lá em menos que isso, para quem está em Portugal, pois esta cidade da Espanha está a cerca de cinquenta quilômetros, mais concretamente da fronteira com
o Nordeste
Transmontano. Atravessamos a fronteira e, em
menos de nada, cruzamos as Tierras del Pan y del Vino da Meseta Norte para nos
depararmos com uma joia dourada no horizonte.
Zamora ou Samora, em português, soma catorze igrejas românicas intramuros mais nove nas cercanias das muralhas.
Nas belas ruelas, de cariz marcadamente medieval, somos encantados por
dezenas de edifícios Art Nouveau e tentados por outros tantos tapas-bar. Nas
praças, sempre airosas e oferecendo a refrescante sombra das suas árvores,
cruzamo-nos com as homenagens aos nomes sonoros da História da Ibéria, como o lusitano Viriato, que ficamos a conhecer quando estivemos em Chaves fazendo a EN2 e visitamos mais um punhado de bons museus.
Mas deixemo-nos de prosas e vamos ao que interessa. Neste artigo vamos falar sobre tudo o que precisa para planejar a sua viagem a Zamora, os principais lugares para visitar, o que ver e fazer, onde dormir e comer.
Como chegar a Zamora?
Zamora é uma cidade espanhola, capital da província homônima, no extremo oeste da comunidade autônoma de Castela e Leão, situada nas margens do rio Douro.
A cidade de Zamora goza de excelentes acessos rodoviários, tanto às principais cidades espanholas como às cidades portuguesas de Bragança e Miranda do Douro, pelo que a forma mais rápida e prática de chegar a Zamora é de carro.
Praticamente vizinha de Portugal, numa viagem de Bragança a Zamora a distância é de pouco mais de 100 km e faz-se em menos de hora e meia, pela A4 até Espanha onde há que tomar a N122. Menor ainda é a distância entre Miranda do Douro e Zamora de cerca de 55 km pelas estradas ZA-324 e N-122 que se fazem em menos de uma hora.
Se não tiver carro próprio, o mais vantajoso é alugar um carro. Em alternativa existem ligações de ônibus, inclusive das cidades na linha Porto – Bragança – Zamora. Mas a logística pode ser complexa e conte com longos tempos de viagem.
Os aeroportos mais próximos de Zamora são Valadollid (80 km) e Salamanca (90 km), mas compensa mais viajar para o Aeroporto de Madrid apesar de estar a 200 km de Zamora. É que os preços dos voos domésticos encarecem demais a viagem. Depois pode optar por ir de trem de alta velocidade, o AVE, ônibus ou, melhor ainda, carro, já que no aeroporto de Madrid é muito mais fácil alugar um carro.
Os aeroportos mais próximos de Zamora são Valadollid (80 km) e Salamanca (90 km), mas compensa mais viajar para o Aeroporto de Madrid apesar de estar a 200 km de Zamora. É que os preços dos voos domésticos encarecem demais a viagem. Depois pode optar por ir de trem de alta velocidade, o AVE, ônibus ou, melhor ainda, carro, já que no aeroporto de Madrid é muito mais fácil alugar um carro.
Quando visitar
Zamora?
Zamora é um bom destino para visitar
numa escapadinha de fim de semana, dada a sua pequena dimensão com tanto
potencial turístico. Uma das melhores épocas do ano para visitar Zamora é na Semana Santa, consequentemente, das que mais atrai visitantes. A cidade é conhecida pelas suas celebrações a
Semana Santa, Declarada de Interesse Turístico Internacional e um bem de
Interesse Cultural.
As festas dedicadas à padroeira da
cidade, Virgen de La Concha, acontecem na Romería de la Hiniesta, uma tradição de mais de 700 anos celebrada
anualmente na segunda-feira de Pentecostes.
Zamora celebra ainda São Pedro (29 de
Junho) com as Ferias y Fiestas de San Pedro.
Embora o roteiro para visitar Zamora
que aqui sugerimos se faça em 1 dia, a cidade tem muito mais para oferecer e
merece ser desfrutada com calma. Por isso, recomendamos dormir uma noite em
Zamora para uma escapadinha de fim de semana de lazer e prazeres. Rapidamente
preenche os 2 dias com visitas às igrejas e museus da cidade de Zamora e
degustando as delícias gastronômicas nos inúmeros restaurantes de qualidade.
De relance podemos citar: O castelo, as muralhas, a
catedral com a sua peculiar cúpula, as igrejas românicas, o labirinto medieval
das ruas, a arquitetura modernista e Art Nouveau e os bares de tapas são os
grandes atrativos de Zamora. Uma pequena cidade de província, à escala humana,
onde se pode ler as histórias e lendas na sua malha urbana, de personagens que
nela deixaram a sua marca. Sempre homenageados porque Zamora não esquece os
seus filhos. Em suma, Zamora é uma cidade para desfrutar em slow motion.
Um pouco de História
Zamora é uma cidade de muitos
encantos… E nomes!
Quando os Romanos chegaram a Zamora,
a região era ocupada pelos Váceos, um povo celtibero que denominou o povoado de
Ocalam. Destacando-se na estrada Romana da Via de la Plata, entre Mérida e Astorga (uma
das vias de peregrinação milenares mais percorridas dos Caminhos de Santiago), Zamora tornou-se crucial para a travessia segura
do rio Douro, às margens do qual foi implantada.
Por isso, os Romanos
chamaram-na de “os olhos do Douro” (Ocellum Durii).
Ocupada pelos árabes, no século VIII
ganha dois novos nomes: “olival silvestre” (Azemur) e “cidade das turquesas”
(Semurah).
Após a Reconquista Cristã, rodeia-se
o núcleo medieval (atual casco histórico, classificado como conjunto histórico-artístico) de inexpugnáveis
muralhas cujas características levaram a que, fosse alcunhada de “a bem
cercada”. Atinge a sua época áurea no século XII, altura da edificação dos
seus monumentos mais representativos em estilo Românico, o que lhe granjeou a merecida
fama atual de “Cidade do Românico”.Obviamente que os portugueses
também lhe devem ter dado uns nomes, mas muito menos elogiosos, já que a relação entre estes "hermanos" era tudo
menos pacífica.
Uma vez que é uma cidade
relativamente pequena e compacta, é perfeitamente viável visitar Zamora a pé.
Portanto, estacione o carro, ande a seu bel-prazer pelas ruas e praças,
deixe-se encantar por esta bela cidade medieval e saboreie cada momento.
Este pedacinho de peña tajada (leia-se, o promontório de rocha onde a
cidade assenta) sempre foi muito cobiçado. Aproveitando anteriores sistemas
defensivos, no século XI, Fernando I decide dar resposta definitiva às
constantes investidas demolidoras dos árabes: um castelo com muralha
inexpugnável. Para garantir o título de invicta, Zamora adicionou mais dois dois
recintos de muralhas ao longo dos séculos. Não haja dúvidas que um dos símbolos
de Zamora é o seu castelo, por isso não pode perder a oportunidade de entrar
neste losango perfeito, visitar gratuitamente o que resta do seu interior, que foi
recentemente recuperado, e as suas três torres. Passeando pelos jardins do Parque del Castillo, adornados por esculturas de Baltazar Lobo, poderá ainda ver o fosso, a Iglesia de San Isidoro e atravessar a “porta da traição” renomeada
pelos zamoranos de Portillo de la Lealtad,
por estar relacionada com o episódio de regicídio que pôs termo aos 7 meses do
Cerco de Zamora. As torres e muralhas oferecem
belas vistas da cúpula da catedral e da torre do sino, da cidade e da paisagem
circundante.Catedral de ZamoraMesmo ao lado, surpreenda-se com a
Catedral de Zamora e o seu zimbório de
inspiração bizantina, construída entre 1151 e 1174. A Catedral de El Salvador de Zamora não é a “típica” catedral espanhola,
grandiosa e ostensiva.
Não se deixe enganar pela simplicidade. Ainda que mais
sóbria e de dimensões mais modestas, é o monumento mais importante de Zamora,
exemplar da arquitetura religiosa românica.
A sua cúpula de 16 janelas é uma das criações mais
assombrosas da arte medieval hispânica. Destacam-se ainda as capelas laterais, para além da Capela-Mor, obviamente, dois púlpitos mudéjar do século XV, o magnífico cadeiral do Coro do século XVI, em madeira de nogueira lavrada
e impressione-se com a imagem do Cristo de las Injurias, possivelmente a imagem mais emblemática das
procissões da Semana Santa.
Nas traseiras da Catedral, ergue-se o Obispado de Zamora e a Puerta del Obispo, uma das entradas na muralha. Busque a Casa del Cid ou Casa de Arias Gonzalo, também em estilo românico como não podia deixar de ser.
Museo Catedralício
de Zamora
No Museo Catedralicio de Zamora,
para além duma exemplar coleção de arte sacra,
prataria, joalharia e paramentaria, conserva-se uma das melhores coleções
europeias de tapeçarias flamengas dos
séculos XV, XVI e XVII.
Museo Baltasar Lobo
Ao lado da catedral, situa-se o Museo
Baltasar Lobo, um museu de escultura contemporânea com peças de Baltasar Lobo,
inclusive pinturas e fotografias. Ilustre filho da terra, este mestre da
escultura moderna dedicou grande parte de sua vida artística à forma feminina,
sendo a obra Mãe e Filho uma das que mais o celebrizou.
Igrejas românicas
O século XII viu muitas igrejas
românicas florescerem em Zamora. Entre as mais interessantes e invulgares estão
as igrejas de San Claudio, San Cipriano, San Vicente, Santa María la Nueva, San
Juan Bautista, Santa María de la Horta, Santo Tomé, Santiago del Burgo,
Santiago de los Caballeros e La Magdalena.
Mirador del Troncoso
Pela Calle Obispo Manso, tem acesso
ao Mirador del Troncoso, com belas vistas sobre o rio Douro, a Puente de
Piedra e o Barrio de Olivares.
Iglesia de San Pedro y San Ildefonso
Continuando para leste, pelo
emaranhado labiríntico das ruas medievais e pequenas praças de Zamora, passando
o Convento
Religiosas Marinas, terá oportunidade de se deparar com
a Iglesia
de San Pedro y San Ildefonso (século
XII, restauro gótico do século XV), a maior igreja de Zamora suplantada apenas
pela catedral, ligada à lenda do “roubo” das relíquias de Santo Ildefonso e
implantada no local duma igreja primitiva do século VII.Dica: pode interessar-lhe saber que por trás da igreja está o Centro de Interpretação das Cidades
Medievais dedicado à história das cidades
europeias da Idade Média, com especial enfoque na cidade de Zamora.
Iglesia de Santa María Magdalena
Continuando pela Calle de los Francos, vamos ao encontro doutra pérola religiosa, não
sem antes apreciarmos as pedras de armas das casas brasonadas e os detalhes
do Convento
del Corpus Christi ou Del Tránsito,
um convento de clausura das monjas Clarissas Descalças – descubra a lenda da
“Virgem Adormecida” associada.
Embora as atenções já estejam focadas
na La
Magdalena. A Iglesia de Santa María Magdalena
é a mais bela igreja românica de Zamora. A magnífica abside e os motivos
decorativos são de uma elegância notável. No seu interior existe um exemplo
singular da escultura funerária românica do século XII.
Dica: consegue ver o “bispo” no pórtico
da La Magdalena? Diz a lenda que quem o vê, vai regressar a Zamora. Nós já
asseguramos o nosso regresso. Para os da terra, a versão é outra: quem o vê
arranja casamento, quem o não vê arrisca-se a ficar para tio/a.
Plaza Viriato
Façamos uma paragem estratégica na Plaza Viriato. Ampla, airosa e sombreada, dominada ao centro pela estátua do Terror Romanorum, Viriato, a maior dor de cabeça do Império Romano em terras lusitanas. Zamora reclama para si o título de berço do pastor-guerreiro, mas Portugal não abdica dessa titularidade.
Na praça, salta à vista o Palacio de los Condes de Alba y
Aliste, atual Parador de Zamora, eleito de muitos como o melhor alojamento onde
ficar a dormir em Zamora. Mesmo que não se aloje neste magnífico palácio, pode
entrar para ver algumas das suas salas e o belo pátio.
Em redor encontra ainda o Teatro Ramos Carrión de Zamora, o Museo Etnográfico de Castilla y León, e o edifício histórico do antigo Hospital de la Encarnación, atual sede da Diputación Provincial.
E chegamos à Plaza Mayor, imprescindível em qualquer cidade espanhola e
ponto de passagem obrigatório num roteiro para visitar Zamora. Contudo, esta é
bem diferente da usual praça quadrangular. É que na realidade, resulta da
junção de três praças.
O centro é dominado pela Igreja de San Juan de Puerta Nueva, cujo pórtico sul encimado por uma roseta românica
não deixa ninguém indiferente. O interior guarda a Virgen de la Soledad, alvo de grande devoção por parte dos zamoranos.
No adro, a escultura El Merlú (para muitos, o momento da selfie), um par de frades, munidos de tambor e corneta
para a chamada dos confrades da Confraria de Jesús Nazareno. Mais uma alusão e
homenagem à célebre Semana Santa de Zamora que, ali por perto, até tem o museu
da Semana Santa dedicado exclusivamente ao tema.
É claro que na Plaza Mayor tem que
estar o ayuntamiento. Neste caso são dois, já que Zamora, a par
do ayuntameinto novo em estilo classicista, preserva o ayuntamiento velho nas linhas clássicas dos edifícios administrativos
da região: dois pisos com fachada em arcada larga.
Dica: em Zamora o ditado bem que podia dizer “todos os caminhos vão dar à Plaza Mayor”. É que são nada mais, nada menos do que 10 as ruas que desembocam no coração da cidade.
Calles de Zamora
Agora cabe-lhe a difícil decisão de
qual das 10 ruas escolher para descobrir mais segredos de Zamora. Damos-lhe uma
mãozinha.
Calle
de los Herreros: uma rua estreita onde só
há bares e muito ambiente. Desemboca na área onde
estão a Iglesia
de San Cipriano e respectivo miradouro, a
bela Iglesia
de Santa Lucía e o Palacio del Cordón ,
atual Museu
de Zamora, com um fachada digna de
contemplação.
Calle
de Balborraz: liga a Plaza Mayor ao rio Douro
e é tão inclinada que até tem direito a escadas. É talvez a mais típica por
causa de ter o maior conjunto de casas com varandas envidraçadas. Nos edifícios característicos e coloridos ainda
existem lojas de artesanato e bares, mantendo a tradição de ser a ruas dos
artesãos e ofícios desde o século X.
Calle
Santa Clara: rua pedonal, centro comercial a
céu aberto e núcleo da Zamora modernista. Pare na Plaza de Sagasta para apreciar o maior conjunto de edifícios
Art Nouveau, tão importantes em Zamora que fazem parte da Rota Europeia do Modernismo.
Ao longo da Calle Santa Clara, não perca o
modernista Casino de Zamora, a fachada
do Palacio
de los Momos, em estilo gótico isabelino, uma
escultura de Baltazar Lobo da série “Maternidade”, a Iglesia de Santiago del Burgo (a melhor preservadas das igrejas românicas),
e o Parque
de la Marina.
Calle
Reina: para descobrir a Puerta e Palacio Doña Urraca ao lado a um pano de muralha original e
muito bem conservado e a Iglesia Santa María La Nueva em cujo interior se pode ver a famosa
imagem de Jesús
Yacente do século XVII de autoria de
Francisco Fermín.
Retomamos a Calle de los Herreros
para descer ao Rio Douro e aproveitamos para tapear. Lá do alto das muralhas miramos com espanto, as suas 5 pontes,
e não vacilamos em afirmar que a mais bela é a Puente de Piedra.
Os seus arcos, como olhos que choram
o Douro, já viram séculos de história e inundações… Há que atravessá-la para
ver a ilha
do Douro, casa de inúmeras aves, e ter a
vista deslumbrante da cidade de Zamora refletida no espelho de água do Douro.
Ao pôr-do-sol, é mágico!
Aceñas de Olivares
Mas o que realmente justifica a
descida ao Douro é a visita ao Barrio de Olivares onde estão as Aceñas de Olivares, o melhor e mais bem preservado conjunto de moinhos de água milenares dos cinco que pertencem a
Zamora. Datam do século XI e são símbolo máximo da primeira indústria
transformadora de Zamora iniciada no século X, as farinhas. Uma visita ao centro de interpretação dá-lhe a conhecer melhor esta atividade
econômica e o impacto que teve na região. Vale a pena passear pelos jardins e parar para escutar a sinfonia musical que
ressoa das copas das frondosas árvores, habitadas por uma infinidade de aves. O
bairro de Olivares é também famoso pela sua cerâmica. Outros conjuntos de moinhos a visitar em Zamora
são as Aceñas
de Cabañales, de Pinilla, de Gijón e
de los
Pisones.
Onde
comer em Zamora?
Comer e beber em Zamora é uma
obrigação. E um prazer! Os produtos regionais mais afamados são garbanzos de Fuentesaúco (grão de bico), as lentilhas de Tierra de Campos, os cogumelos, a carne de vitela de Aliste e de Sayago, e os pimentos de
Benavente. E vinho, é claro, que num território tão pequeno tem quatro
palatos: Toro, Tierra del Vino, Arribes
del Duero e Valles de Benavente.
Patatas Bravas com B grande. Se quer um conselho de amigo, peça logo uma cerveja bem fresquinha! |
As zonas de tapas e pratos típicos zamoranos encontram-se nos
restaurantes e bares em redor da Plaza Mayor. Das tradicionais molejas, callos e cachuelas, destacamos o Café Viriato, inventor de tapas criativas que mais prêmios arrecada nos certames
gastronômicos de tapas. Entre as ruas Santa
Clara e San Torcuato fica a zona
denominada “la de los bares o la de los Pinchos”. Aqui há que provar las patatas bravas com receita patenteada no El Caballero, los tiberios no Bar Bambu e los pinchos morunos no El Lobo,
mas pedidos com imposição: “Picantes ou não? Traga duas doses de cada!” E o
empregado grita para a cozinha, “Dos que sí, dos que no!”
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