A minha visita a Bitola, segunda maior cidade da Macedônia, tinha um propósito bem definido. Queria visitar as ruínas Heraclea Lyncestis, localizadas no sopé do Monte Baba e cuja origem remonta ao século IV a.C. E assim conhecer os seus famosos e deslumbrantes mosaicos. Eles são uma das grandes atrações de Heraclea Lyncestis e, na verdade, um dos principais motivos que me levou a Bitola.
Chegamos a Heraclea Lyncestis antes do período da tarde. Não havia nenhum turista à exceção de nós e um professor com meia dúzia de alunos que parecia lhes dar aulas de história. Quem nos fez a vez de guia foi um cãozinho que nos acompanhou o tempo todo, a subir e descer pelas ruínas e caminhar pelos mosaicos.

Talvez as fotos consigam descrever melhor por que gostei de visitar as ruínas de Heraclea Lyncestis. E, quem sabe, motivar algum intrépido viajante a conhecer aquele que é tido como um dos melhores sítios arqueológicos de toda a Macedônia.

Embora o estado negligenciado do museu no local possa fazer você pensar o contrário, pois ao contrário de sites arqueológicos importantes na maioria dos outros países, visitar Heraclea é extremamente relaxado. Os turistas podem escalar todo o lugar. Não há sequer nenhum sinal impedindo você de pisar os antigos pisos de mosaico; aparentemente, as pessoas são confiáveis em  empregar seu senso de preservação.
A antiga Cidade de "Heraclea Lyncestis"

A antiga cidade de Heraclea Lyncestis está localizada a 2 km ao sul de Bitola e existiu por mais de um milênio como um importante ponto estratégico.

Fundada em meados do século IV aC por Philip II da Macedônia. O nome de Heraclea vem, como se poderia supor, do herói mitológico Heracles. Uma máscara que descreve o famoso matador de monstros foi descoberta nas ruínas e pode ser vista no museu no local. O nome Lynkestis tem origem no nome do antigo reino, conquistado por Filipe, onde a cidade foi construída. O epíteto Lyncestis significa "Terra do Lynx" em grego.

Em meados do século II aC, os romanos conquistaram a Macedônia destruindo seu poder político, tornando-a uma província, desintegrando-a em quatro distritos. Heraclea que pertencia ao quarto distrito, prosperou muito durante esse período, principalmente devido a sua localização ao longo da Via Egnatia (a rodovia romana que uma vez correu do Mar Adriático a Istambul). A cidade era um importante e próspero centro de comércio até um devastador terremoto que levou ao seu abandono no século VI dC.

Durante o cristianismo primitivo (IV-VI século DC), Heraclea foi um importante centro episcopal. Vários de seus bispos são mencionados em documentos dos conselhos da igreja. O bispo Eugrius é mencionado em documentos do Conselho em Serdica em 343, Bispo Quintilius no Concílio em Éfeso em 449, e Dom Benignus em Constantinopla em 533.

Do período romano em Heraclea, hoje podem ser vistos vários edifícios tais como: banhos romanos, pórtico de tribunal, o anfiteatro,  a impressionante basílica cristã primitiva e as ruínas do palácio episcopal, com belos e bem preservados mosaicos no chão - eles são únicos em retratar padrões florais, árvores e animais selvagens endêmicos - e partes de outros edifícios dentro dos muros da cidade.


Mas, a maior parte de Heraclea Lyncestis ainda não foi descoberta, ainda há muito a ver, incluindo edifícios residenciais, igrejas e ruas equipadas com drenos de esgoto.

Em 1931, uma pequena entrada de ingresso esculpida no osso foi encontrada dentro da cidade, o que levou os arqueólogos a argumentar que Heraclea devia ter um teatro.

Mas, a Segunda Guerra Mundial interrompeu a escavação até 1968, quando finalmente o teatro foi descoberto no declive norte da cidade.

Hoje, toda a estrutura foi revelada, com espaço para centenas de espectadores, túneis sob os assentos e até mesmo gaiolas de animais.

Uma aposta segura de que este anfiteatro viu algum entretenimento sangrento ao estilo gladiador.

A vida em Heraclea, como em muitas outras cidades clássicas, morreu no final do século VI, quando se acredita que a população se mudou para o local atual da cidade de Bitola.

Como chegar a Bitola
Bitola fica a 170 quilómetros de Skopje e pode ser uma paragem entre a capital e o lago Ohrid. Foi exatamente isso que fizemos. Nós estávamos de carro, mas você pode chegar à cidade através da estação de ônibus de Skopje (os bilhetes são comprados antes de entrar no autocarro). A viagem Skopje – Bitola dura quase quatro horas.

Visitar Heraclea Lyncestis
Do centro de Bitola até ao complexo arqueológico são cerca de 30 minutos a pé. Você pode tomar um táxi ao custo de 80 MKD. As principais estações de ônibus e trem da cidade estão a uma caminhada de 15 minutos de Heraclea Lyncestis, então, se você estiver passando pela cidade, é fácil de visitar a pé.

Horário de Funcionamento
Todos os dias
Abril - Outubro: 09.00 - 18.00 h
Outubro - Março: 09.00 - 16.00 h
Preço
Adulto: 100 MKD
Criança: 20 MKD

Diria que Skopje, a capital da Macedônia, é uma cidade esperando para ser descoberta. Pena que o nosso tempo para aproveitar a cidade foi bem curto. Chegamos na tardinha do dia anterior, vindos da Bulgária de transfer privativo, como já contei aqui e aqui. No dia seguinte, tivemos um dia inteiro para fazer todo esse roteiro, pernoitamos na cidade e fomos embora na manhã do dia seguinte, em direção a Bitola. Nós não vimos tudo o que tinha para ser visto em Skopje, não visitamos os museus e não tivemos tempo de fazer os passeios nos arredores da cidade, por isso, recomendo fortemente que você passe pelo menos mais uma noite lá.

Bom, Skopje passou pelas mãos de muitos governantes, dentre bizantinos, eslavos, gregos, búlgaros, austro-húngaros, sérvios e turcos, mudou de nome várias vezes. É fácil ver como ela foi diferentemente influenciada.

Por outro lado, acho que a visão que o mundo tem da própria Skopje é meio que subestimada. Vejam bem, foi só a 20km dali que nasceu o imperador bizantino Justiniano, foi ali onde nasceu também a Madre Teresa. Você sabia que Madre Teresa nasceu em Skopje? Sim, a que foi para Calcutá e hoje, tem um museu no centro da cidade onde era sua casa! Pois é, os macedônios têm o maior orgulho disso. Seu nome verdadeiro era Anjezë Gonxhe Bojaxhiu e ela tinha etnia albanesa, o que a torna uma figura muito cultuada na Albânia também. 

E por último, mas não menos importante, Alexandre o Grande teve sua estátua erguida em 2008 na praça principal de Skopje, causando mal estar com a Grécia pois o território onde Alexandre o Grande nasceu era na época de domínio grego.
Como se já não bastasse os maus tratos do comunismo, quase todas as construções do século XVIII e XIX da antiga Skopje foram destruídas pelo terremoto de 1963 que matou muita gente e deixou milhares desabrigados. Desde que conseguiu independência em 1991, conflitos com a Sérvia, Kosovo, Grécia e Albânia foram constantes e não era seguro viajar por essas bandas. Mas a Macedônia agora parece estar atrás de cultivar mesmo sua história sem se importar com o que seus vizinhos vão achar. Até o aeroporto foi renomeado de Aeroporto Internacional "Alexandre o Grande" aumentando ainda mais a tensão com a Grécia, e a Macedônia está firme se segurando como pode.

Como estávamos hospedados pertinho do bairro otomano, foi por ali que começamos, principalmente, porque ali fica a Tvrdina Kale, uma fortaleza do século VI, herança do governo otomano, de onde se tem uma bela visão da capital macedônia.

Bom, pouco dela permaneceu de pé, principalmente depois do terremoto de 1963, que causou grande estrago em Skopje, mas na última década as muralhas externas foram reconstruídas.

E o que dá para fazer lá dentro é só mesmo percorrer a muralha, pois no centro só restam ruínas.
O melhor lá de cima é a vista.

Além de ver o canteiro de obras em que Skopje se transformou, a gente tem uma ótima vista das montanhas que circundam a cidade.

Ao lado da fortaleza fica a Mesquita Mustafa Pasha, de 1492, mais um vestígio do período otomano na Macedônia.

Nós só fomos até o jardim da Universidade que fica próximo dela.
Sei lá, não era um lugar turístico, se havia alguém lá, estava rezando, então achamos melhor respeitar...tiramos fotos só de longe…
Ainda deste lado do rio fica um lugar que vale muito conhecer principalmente pela sua história: a Igreja Sveti Spas.

A mais antiga igreja preservada de Skopje, construída inicialmente no século XIV.

Na época os otomanos não permitiam que as igrejas fossem mais altas que as mesquitas e por isso essa igreja foi construída parcialmente subterrânea.

A porta fica no nível da rua, então a gente desce uma escadinha para acessar a nave.

Por ser uma igreja ortodoxa, lá dentro não há nenhuma estátua, apenas pinturas. E que pinturas!

Uma enorme iconóstase – uma espécie de biombo de madeira – do século XIX com 10 m de largura e quase 7 m de altura, serve de base para pinturas que representam cenas bíblicas.

A entrada custou 120 denares por pessoa. A Sveti Spas fica aberta de terça a domingo, das 8h às 15h.
Ainda é do lado de cá do rio que fica uma das áreas mais interessantes de Skopje e que conta um pouco de sua história: o Old Bazaar, antigo bairro otomano, que em turco significa Stara Čaršija.

O centro de Skopje é predominantemente turco, pois foi ali onde os turcos mais viveram na longa época do império otomano. Hoje essa área é o centro antigo da cidade, pode-se dizer o principal ponto turístico.
São várias e várias ruazinhas com lojinhas estilo bazar turco vendendo antiguidades e qualquer outra coisa, mas principalmente as joalherias e ouro e prata.

Os turcos eram em sua maioria muçulmanos, então é ali onde se veem muitas mesquitas e influências islâmicas desde aquela época.
Chegar ali é como viajar no tempo e no espaço, pois a área é bem diferente do centro da cidade.
Percorrendo aquelas ruas de pedra do centro antigo de Skopje, alguns cafés e os bazares, senti-me de volta a Túnis, na Tunísia.

Haviam poucos turistas e o comércio parecia ser bem local. Por causa disso, era até um pouco constrangedor, pois as pessoas nos olhavam e logo eramos reconhecidos como turistas, mas nada que fosse ofensivo e estragasse nosso passeio.

Aqui está o Suli An, que significa "pousada aquática" devido ao fato de que um pequeno rio corria ali perto.

Este bonito prédio foi construído durante a primeira metade do século XV. Suli An é composto por um piso térreo e primeiro andar, que são feitos de paredes maciças e arcos.

Durante o Império Otomano, o Suli An foi uma cidade clássica para viajantes e comerciantes com suas caravanas.

A pousada sobreviveu a vários danos, a primeira foi em 1689 em um incêndio e no terremoto em 1963, quando as paredes foram totalmente destruídas. Em 1972, Suli An foi reconstruído e hoje é onde está o Museu do Bazar Antigo, bem como a Faculdade de Artes de Skopje.

Por aqui também estão os famosos Banhos Turcos: Cifte Hamam e Daut Pasha Hamam
Chifte Hammam foi construído na segunda metade do século XV, como um presente (dote) de Isa Beg com uma área de 1056 metros quadrados e consiste em duas partes quase idênticas com entradas separadas para homens e mulheres, da qual vem o nome de um casal ou banho de banho duplo.

Em 1963, durante o grande terremoto em Skopje, Chifte Amam ficou significativamente danificado. Em 2000, o Amam também recebeu o uso da Galeria de Arte Skopje na função de um espaço de exposição multimídia.

Daut Pasha Hamam está localizado no centro da cidade, perto da Ponte de Pedra, do Old Bazar e da Fortaleza Kale. O hamam foi construído por Daut Pasha na segunda metade do século XV. Daut Pasha era conhecido pela propensão ao luxo, especialmente quando se trata das necessidades das belezas de seu rico harém. O prédio foi originalmente dividido em partes masculinas e femininas e tinha uma área de 900 metros quadrados e é a pérola da monumental arquitetura profana islâmica. Hoje abriga uma Galeria de Arte.

Nesta região já temos uma parte mais nova da cidade, por aqui estão alguns prédios públicos e o Macedonian Opera and Ballet, a Faculdade de Música e o Teatro Ópera.

A cidade é cortada pelo Rio Vardar, neste perímetro temos três pontes em destaque: a Art Bridge ou Ponte da Arte. É uma peatonal que apresenta muitas estátuas de notáveis ​​artistas e músicos macedônios. A ponte inclui 29 esculturas, com 14 de cada lado e uma no centro.
A outra ponte é a The Bridge of Civilizations in Macedonia, que retrata a época da civilização da Macedônia, então por ali estão mais estátuas de religiosos, descobridores, até uma nau que é bar-café. A ponte também é toda em bronze com brasões e escudos da era romana, grega…
Ainda do lado de cá da ponte temos o Museu de Arqueologia da Macedônia, Financial Police Office.
E andando um pouco mais chegamos à Mother Teresa Square e a St Mother of God Church.
Há um projeto chamado "Skopje 2014" onde até então o governo almeja ter a cidade restaurada e com uma nova cara para atrair turistas e alavancar essa fonte de renda. Estão fazendo um esforço grande para manter a cidade apresentável nesse projeto.
Então de acordo com o que eu vi, tudo está em reconstrução! Verdade, por todos os lados, principalmente nessa parte nova da cidade, quase tudo está se ajeitando, prédios reformando, investimentos ali, construção acolá.

O centro da cidade ganhou várias estátuas que há 2, 3 anos não estavam lá e obras faraônicas que dividem opiniões, e parece que tem gerado protestos também, pois muitas estátuas estavam manchadas de tinta. Cada um sabe onde o seu calo aperta, não é mesmo? Para os turistas virou um lugar muito bacana. Tenho certeza que quem for lá daqui um tempo, vai ver muita coisa que eu não vi.
Este prédio é da Assembléia do Governo e o debaixo é a Porta da Macedônia. O arco é dedicado a 20 anos de independência macedônica e sua superfície externa é coberta em 193 m ² de relevos esculpidos em mármore, retratando cenas da história da Macedônia. Também contém salas interiores, uma das quais tem uma função de loja de lembranças estatal, bem como elevadores e escadas que fornecem acesso público ao telhado, supostamente destinados como espaço para casamentos.


Andar pelas ruas e passar um tempo sentado nas praças e ruas para pedestres observando o vai e vem das pessoas nos deixou satisfeitos.

Fugindo um pouco da praça e seguindo pela Rua Macedônia, uma rua para pedestres deliciosa…
… a gente chega à Casa Memorial de Madre Teresa.


O prédio em que ele está instalado chama atenção, pois tem uma arquitetura nada convencional.

O memorial é pequeno, a visita é rápida, mas interessante.

A entrada é gratuita. O memorial fica aberto de segunda a sexta, das 9h às 20h, e aos sábados e domingos, das 9h às 14h.

Logo ali ao lado está a St. Constantine and Elena'' Church e a Torre Feudal.

No final da Macedônia Street temos o Museu da Cidade e no início, onde também várias ruas se convergem, está a Estátua de Alexandre, o Grande.

É aí o coração novo da cidade, que funciona e vibra todos os dias e que uma estátua gigante com uma estranha semelhança com o rei guerreiro, Alexandre, foi erguido no coração da capital da Macedônia. Sentado em seu corcel favorito, o herói clássico examina a capital do ponto de vista da Plostad Makedonija, a praça central de Skopje. A 22 metros, ou oito andares de altura, a estátua anula seus arredores.
À noite quando as luzes se acendem, os arredores do Rio Vardar e da Plostad Makedonija ficam ainda mais interessantes. As fontes são ligadas e as pessoas invadem as ruas. Nós estivemos lá sem maio, mas imagino que no auge do verão o clima seja ainda mais legal.
Agora, cruzando a última e famosa Stone Bridge, ponte peatonal que data do século XV, estamos saindo do centro de Skopje. A ponte é considerada um símbolo de Skopje, o elemento principal do brasão e incorporado na bandeira da cidade. A Ponte de Pedra liga a Praça da Macedônia , no centro de Skopje, ao Old Bazar.

Dali temos uma visão maravilhosa, dos prédios do governo, o Museu Nacional, o Macedonian National Theater, o Museu da Luta Macedônica. 


Depois de atravessarmos a ponte, chegamos na Praça Olimpija, um monumento dedicado Olympia, mãe de Alexandre o Grande e esposa de Felipe II. A fonte tem em cada um dos seus pontos cardinais: uma mulher grávida, outra amamentação, outra abraçando seu filho e outro como jogando.


Ali também está a Church St. Demetrius e o Holocaust Museum. Um museu dedicado à memória dos judeus da Macedônia que pereceram no Holocausto durante o governo búlgaro. O edifício moderno foi inaugurado em 2011 e está localizado onde antes era o bairro judeu da cidade.
Depois de tudo pelo que passou o país, espero realmente que todos estes bilhões investidos, ajude a cidade a atrair muitos turistas, porque ele merece!Finalmente, poder estar caminhando com suas próprias pernas, isso é honorável!Admirável!  Saí de lá com a vontade de retornar daqui a alguns anos para ver no que a cidade se transformou. E uma coisa lhes digo: se eu demorar muito, com certeza o resto do mundo já terá descoberto Skopje!