Um dia em Budapest, “a pérola do Danúbio”

20:32


A nossa viagem a Budapeste começou numa manhã do início de outono, vindos de Praga por via terrestre, passando pela Eslováquia, onde vimos muito gelo nos campos.
   
Depois de passar pelos postos de fiscalização na divisa dos dois países, felizmente agora são só resquícios era comunista. Chegaríamos ao destino no final da tarde, depois de mais ou menos umas 5 horas de viagem.
 
Na viagem até Budapeste tivemos uma parada para almoço no  Marché Mosonmagyaróvár North
Highway M1 H-9200 Mosonmagyaróvár (sentido indo para Viena) e foi uma boa refeição, enquanto descansávamos da viagem de ônibus. A comida é gostosa e você mesmo se serve e pagamos 4630,00 Ft. Possuem um pequeno mercado para compra de itens para viagem e fica ao lado de um posto de gasolina. 
Crédito: foto do Marché
Ficamos no Mercure Budapest Korona Hotel, Kecskeméti utca 14. Um hotel muito bem localizado. Na esquina tem uma estação com duas linhas de metro, a Kálvin tér, sim, vá se acostumando com os nomes, você terá que checar no mapa pelo menos umas três vezes para conseguir assimilar as palavras. Sobre a pronúncia, esqueça, se você nunca teve aulas de húngaro não fará a mínima ideia. Mais à frente o Magyar Nemzeti Múzeum.
Uma visita a Budapeste exige no mínimo três dias inteiros andando muito, como só tínhamos esta tarde e o dia seguinte, instalados no hotel partimos para a melhor parte de tudo numa viagem: desbravar o novo território, não é mesmo? Fim de uma tarde nublada e fria, que parecia o início de noite, saímos a caminhar sem rumo pelas redondezas. Fomos até ao final da  Múzeum körút e entramos na Rákóczi út. Sendo körút avenida,  út abreviação de utca, rua.
A arquitetura revela a história da cidade, deixa evidente a influência da ocupação turco-otomana e mostra toques folclóricos, como buquês de flores e pássaros, num típico exercício do nacionalismo húngaro.
  
Os edifícios de fachadas rendilhadas, ricamente ornamentados com detalhes em mosaicos, arabescos, elementos orientais e grandes figuras humanas pretendendo sustentar as fachadas são a primeira das belas e agradáveis surpresas de Budapeste.
         
Outros edifícios relembram, na grandiosidade dos espaços, a nobreza da cidade que um dia dividiu com Viena a sede do Império Austro-Húngaro.
 
Com um jeitão urbano que lembra Paris, Budapeste ganhou o aspecto atual nos anos 1890, quando muitos dos magníficos edifícios foram construídos, na comemoração do seu 1000º aniversário.
 
Praticamente renascida depois da 2ª Guerra Mundial, e tendo ganhado a renovação de seus tempos de glória após o fim do comunismo, a cidade tem oferta cultural permanente, seja em museus ou concertos, ou mesmo na saborosa e calórica culinária, com destaque para os doces e bolos preparados com esmero desde os tempos em que Sissi, a imperatriz, frequentava a cidade.
 
Sinagoga de Budapeste, a segunda maior do mundo
É a segunda maior do mundo, só atrás da de Nova Iorque. Isso em assentos. Dizem que em área a de Budapeste é maior. Fica logicamente no bairro judeu da cidade, pertinho do hotel onde estávamos. Ela foi construída no final do século XIX. No final da II Guerra, já em 1945, os judeus húngaros foram massacrados não só pelos nazistas, mas basicamente, pelos húngaros mesmo, já que a guarnição alemã era minúscula na cidade. Os nazistas pediam um trem de judeus para enviar para os campos de concentração e os locais providenciavam cinco.

Assim como vimos em Praga, durante a guerra, os 200 mil de judeus de Budapeste foram reduzidos a 70 mil, confinados ao gueto. Quando os russos chegaram para liberar a Hungria, havia uma grande quantidade de cadáveres pelas ruas do gueto, e foi impossível identificar todos. Foram enterrados em uma covas comuns, no cemitério que fica ao lado da sinagoga.
    
No dia seguinte saímos para conhecer o lado Pest da cidade:
Pest é a parte plana de Budapeste, onde não faltam parques, lojas, ruas e praças bem cuidadas e restaurantes que servem os saborosos pratos da culinária húngara, onde está a Praça dos Heróis, o Mercado, a Avenida Andrassy, importantes pontos turísticos da cidade.

O parque  Municipal é o maior parque público de Budapeste e a mais de 250 anos é o local preferido das pessoas. Ele é repleto de prédios históricos, restaurantes típicos, zoológico, circo, parque de diversões e as termas de Széchenyl que aproveita as fontes termais de 74º C que aqui brotam da terra. Em dias frios você pode ver o vapor saindo das águas dos laguinhos do parque. Em frente às termas está o Castelo de Vajdahunyad (Vajdahunyad vára) construído em 1896 para ser o Pavilhão da História. Em frente a esse castelo há um lago que no verão é utilizado para andar de barco e no inverno para patinar no gelo.
    
Saindo do parque em direção à avenida Andrassy chega-se a um dos principais cartões postais de Budapeste: a praça milenária ou Praça dos Heróis (Hösök tere), com seu imponente Monumento do Milênio, construído para celebrar os mil anos da pátria húngara.A praça dos heróis é um imenso espaço aberto. Nessa praça também fica o Museu de Belas Artes, o mais importante do país com coleções de arte egípcia, pinturas clássicas e uma grande coleção de obras espanholas. Do lado oposto da praça fica o Palácio da Arte, dedicado a exposições temporárias.
  

No centro desse monumento há um obelisco de 36 metros de altura dedicado à glória. Em cima o arcanjo Gabriel levanta os símbolos do reino húngaro. Há ainda duas colunatas de 85 metros de largura onde sucedem-se os reis, governadores e os revolucionários mais importantes do país. Em cima, nos pontos extremos da colunas, podemos ver quatro conjuntos de estátuas alegóricas de bronze representando o Bem Estar, a Guerra, a Paz e a Sabedoria.
  
Vendo tamanha beleza não pude deixar de imaginar como terá sido nos tempos de submissão ao bloco soviético, onde os comunistas espalharam estátuas gigantescas e de mau gosto, por todas as partes representando o trabalho, Lênin e tantos outros símbolos da URSS. Essas estátuas precisavam ser gigantescas para mostrar ao povo que o governo tinha a força e o cidadão era apenas um ser minúsculo e que tinha apenas que se submeter aos seus mandos e desmandos.
Deixando a praça dos Heróis no sentido oposto ao Parque Municipal , entra-se na Avenida Andrassy , uma das principais vias de Budapeste e local de reunião da aristocracia, de prédios históricos, praças e rara beleza. Um roteiro em Budapeste não pode esquecer da avenida Andrassy e seus arredores, que compõem um conjunto arquitetônico homogêneo, do final do século 19 e patrimônio da Unesco. 
Com vilas e mansões neo-renascentistas, muitas delas sedes de embaixada, a Andrassy tem jeito de Champs Elysées de Budapeste e é também a rua das grifes internacionais e das boutiques de luxo. É nela também que fica a Ópera Nacional e o Museu Casa do Terror (www.terrorhaza.hu). Caminhar por essa avenida nos remete diretamente ao passado e sentir a atmosfera nostálgica aflora sentimentos, que aliados ao conhecimento da história do local, ambíguos, de dor, saudade e paz. Não tem como não se imaginar em tempos idos, durante a primeira e a segunda guerras, lembrar dos nazistas, dos comunistas e sentir o que este povo deve ter passado em todos esses anos. Porém, também imaginar como se sentem agora, livres de toda essa opressão de anos sem fim, de censura total e irrestrita. A Andrassy tem 2,5km, passando pela József Attila ut saímos na Széchenyi István tér (uma praça com algumas estátuas) e de lá é só atravessar a Ponte das Correntes para chegar ao lado Buda da cidade.
           
Parlamento - À beira do Danúbio, no lado Pest, este edifício neogótico (construído no século 19) é o verdadeiro cartão-postal da cidade. Sede da Assembleia Nacional, tem 691 salas, 268 metros de comprimento e uma cúpula de 96m de altura. É o maior edifício do país e vale uma fotografia de qualquer ângulo. Aberto de segunda a sexta, das 8h às 18h; sábados das 8h às 16h e domingos das 8h às 14h. Entrada paga.

Mas tudo isso é pouco, porque a beleza da cidade se espalha por toda parte, ao longo do Danúbio, e de suas belas pontes que unem as duas partes do local.
O Danúbio e as suas pontes
O rio Danúbio separa e ao mesmo tempo une os dois lados de Budapeste. Por causa dele que a cidade foi construída ali. Em tempos idos a navegação era fundamental para o transporte de pessoas e cargas e ainda hoje é possível chegar a Viena e outros locais da Europa pelo Rio. Além de seu lado “prático” o rio traz uma beleza especial à região. A vista de um lado ao outro, as construções e morros, seus penhascos e toda a história encantam os visitantes.
PONTE DE ISABEL (ERZSÉBET-HID) – construída em homenagem à imperatriz Sissi do império austro-húngaro, ela foi a primeira ponte suspensa de grande envergadura  a não ter pilares na água. Também destruída completamente no final da segunda guerra mundial foi a última a ser reconstruída, apenas em 1964. Esta não foi reconstruída exatamente como a anterior e perdeu muito de suas ornamentações, porém se manteve esbelta como se flutuasse sobre a água do rio.


PONTE DA LIBERDADE (Szabadság hid) – esta ponte foi construída em 1896 e naquela época era a maior ponte do mundo que se baseou na técnica famosa de Gerber, onde se constrói dois pilares e depois se coloca um outro corpo independente que liga as duas extremidades

PONTE DAS CORRENTES 
Uma das pontes mais bonitas da Europa é a Ponte Chain em Budapest. Por muito tempo as duas margens do rio apenas interagiam através de barcos e balsas que bailavam de um lado a outro do rio. Porém quando a primeira ponte de pedra foi construída no começo do século XIX a relação entre os dois lados se intensificou. Até hoje essa ponte é conhecida pelo mesmo nome: A Ponte das Correntes (Lánchid). A obra seria uma ponte suspensa em correntes de ferro enormes, com poucos pilares no rio devido a sua grande correnteza. Para se ter uma ideia da sua importância, naquela época a outra ponte fixa do Danúbio ficava apenas em Viena. As decorações de ferro fundido transmitem dignidade, calma e equilíbrio,e leões monumentais guardam a entrada da ponte.
 
Uma das melhores maneiras de apreciar a cidade, o castelo e as pontes são os cruzeiros noturnos. Nós fizemos este passeio que mostro no final deste post. Daqui fomos ao Mercado Central onde almoçamos, compramos lembrancinhas e páprica é claro!
Mercado Central , ou Nagy Vasarcsarnok Foi Gustaf Eiffel, o mesmo arquiteto da torre de Paris, quem criou o edifício do Mercado Central de Budapeste, que funciona muito próximo à mais bela das pontes da cidade, a Széchenyi ou Chain Bridge, projetada pelo britânico William Clark.
   
É bom reservar umas duas horas pelo menos, para circular por esse belo exemplar arquitetônico onde húngaros fazem suas compras de frutas, verduras, carnes, salames e condimentos.
O mercado é impecavelmente limpo e vale a pena conhecer, entre os legumes, as dezenas de diferentes pimentões – verdes, brancos, vermelhos, alaranjados, longos, curtos, redondos, pontudos doces e picantes - , pepinos, frutas de muitos tipos e muita páprica.
  
No andar superior, quiosques de artesanato com artigos de couro, bordados e bonequinhas típicas dividem espaço com restaurantes de especialidades locais.


Muitas pimentas em toda parte... Para comer, comprar e, claro, fotografar...

E foi aqui no mercado que almoçamos antes de ir para o lado Buda. Almoçamos no Fakanál Étterem ,  um típico restaurante húngaro localizados no andar superior do Mercado Central ou Nagy Vasarcsarnok, em Budapeste. 

O sistema é o seguinte: você escolhe o que vai comer, a quantidade e eles te servem. O lugar é pequeno, tem poucas mesas e estava cheio, quase não conseguimos mesa às 13:00 h. Nós escolhemos o famoso "goulash e a cerveja completou as nossas refeições. O valor que pagamos, foi muito bom para degustar uma comida autêntica húngara. Uma visita divertida conciliar o mercado e o restaurante.
Agora vamos conhecer o lado Buda da cidade:
A região histórica da cidade, com uma imponente visão do lado de Pest, é onde fica o Castelo de Buda, totalmente reconstruído depois dos bombardeios da 2ª Guerra Mundial. É lá também que está o complexo da Igreja de Mátyás, onde os reis eram coroados e seus típicos telhados de cerâmica colorida, o Bastião dos Pescadores, e suas sete torres pontudas, simbolizando os líderes das tribos húngaras. Por que pescadores no alto do morro? Porque ali havia um mercado medieval onde se vendia peixe e as antigas muralhas da cidade, defendidas pela Corporação dos Pescadores.
      
Vale a pena passar boa parte do dia na parte histórica de Buda e caminhar pelas ruas irregulares, observando os detalhes das edificações históricas que são belíssimas.
     
Eu devo confessar que esse distrito é muito fofo e romântico… caminhe por todos os lados, se encante com a vista, com as ruazinhas, com o telhado da igreja, com a magnitude do que um dia já foi parte do império “Austro-Húngaro”.
 
            
Igreja de São Matias ou Máthyás Templom
Este templo é outra joia arquitetônica de Buda, com seus típicos telados coloridos e  tem seu nome devido ao grandioso rei dos húngaros: Matias, que mandou construir no século XV a torre mais esbelta que ainda hoje se destaca na construção.
Foi nela que este famoso rei húngaro realizou seu casamento, no século 15. E desde então, a mesma tem sido palco de muitas coroações de reis.
 
         
Bastião dos Pescadores ou Halászbástya

Ao lado desse templo está uma das construções mais interessantes de Budapeste: o Bastião dos Pescadores. Localizado no alto de uma penhasco e de frente parra o Danúbio, o Halászbástya foi construído no final do século 19, num estilo que remete à idade média.
  
Este conjunto de sete torres em estilo gótico que encanta os visitantes pela beleza, parecem dar asas à nossa imaginação, e são um dos pontos preferidos dos turistas para fotografias, além de fornecerem uma das melhores vistas da cidade. 

Neste local há a estátua do fundador do estado Húngaro, o monumento a São Estevão, o primeiro rei húngaro e deve-se a ele o cristianismo no país.
 
Aqui o clima medieval é festejado e artistas fantasiados e com seus falcões nos remetem a séculos atrás. Um clima fantástico e totalmente bucólico.
      
Dominando a margem oposta do Danúbio é quase impossível não reparar no grande prédio situado sobre uma colina, e sua cúpula esverdeada. O Castelo de Buda sobressai na margem oeste do Danúbio e abriga entre outras coisas a Galeria Nacional Magyar Nemzeti, onde estão pinturas de artistas húngaros, além de relíquias, moedas, e diversos objetos relacionados à história do país.  

Mas imperdível é o panorama da cidade, vista do alto, com o Parlamento se destacando no outro lado do rio.


À noite assistimos ao show de Czardas, que é uma dança tradicional húngara, viva e alegre, acompanhada por um conjunto de violinos. São famosas as Czardas de Monti.Os bailarinos são do sexo masculino e feminino, com as mulheres vestidas de saias larga tradicionais, geralmente de cor vermelha, que formam uma forma distinta quando turbilhão. No jantar muita comida típica todas com muita páprica. Os aperitivos não há como esquecer os salames húngaros, famosos em todo o mundo. A carne também é muito consumida, para acompanhar ótimos vinhos locais, as cervejas húngaras, como a Kobanyai e Dreher. E de sobremesa as imbatíveis tortas de maças ou os crepes (Palacsinta) também ótimos.

       
   

Partimos de Budapeste levando na mala ótimas lembrança desta cidade, não somente gastronômicas, mas também afetivas. Os Magyares sabem como receber bem, tem uma capital bonita e desde que seu sistema de governo adotou a democracia, tem recebido cada vez mais visitantes, ansiosos em descobrir as belezas de Budapeste, merecidamente conhecida como a Paris do leste europeu.
Mas a noite não seria perfeita sem o famoso e romântico cruzeiro pelo Rio Danúbio. Um passeio muito procurado por turistas, pois esta é a melhor forma de apreciar a ponte das correntes, a cidadela, o parlamento e toda a Budapeste. As embarcações turísticas que partem dos cais junto à ponte Lánchid e os passeios têm uma hora de duração.
  
    
A Hungria para a maioria das pessoas deste lado do planeta, normalmente é uma incógnita, sabe-se muito pouco sobre esse país, sua história e seu povo. Então, a minha dica para aproveitar ainda mais o destino é, antes da viagem, consultar, mesmo que rapidamente, informações históricas da região: as invasões otomanas, os Habsburgos, o Império Austro-Húngaro e os imperadores Franz Joseph I e sua esposa, Sissi porque eles aparecerão com frequência. Leia também sobre a importância do Danúbio, o rio que corta a cidade e foi celebrado na valsa de Strauss. Que a propósito, o Danúbio não é azul!

E você sabia que os húngaros tem um excelente ensino em matemática, que os húngaros são pioneiros em computação digital, arquitetura de processador para computadores, inventores da lâmpada de criptônio, da caneta esferográfica, da linguagem de programação BASIC e agora este que todo mundo já brincou um dia, o cubo de Rubik, mais conhecido como “cubo mágico”? Pois é, viajar também é cultura!
Ao chegar em Budapeste e me deparar com esse país envolto em toda essa história de dor, sofrimento e luta, que despertou mais uma vez para o progresso e a liberdade há tão pouco tempo, depois de muitas décadas de entorpecimento e mão de ferro do bloco soviético. Senti um misto de sofrimento e de ternura que me acompanharam durante os lugares e monumentos visitados. E agora coletando dados para esta postagem no blog, me emocionei novamente revendo foto como deste monumento totalmente destruído por balas e os vídeos daquele povo alegre, com suas danças típicas e até nos homenageando tocando “garota de Ipanema”. Vieram à tona esses mesmos sentimentos de compaixão e de saudade de algo inexplicável…e é com este sentimento e com esta imagem que termino esta postagem…

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